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Você conhece Li Shufu, o chinês que é “dono de tudo”?

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Provavelmente você nunca ouviu falar de de Li Shufu. O chinês é um dos nomes mais importantes hoje da indústria automotiva. Entre outros, ele é dono da Volvo e o maior acionista individual da Mercedes-Benz

da Redação

Li Shufu, ceo GEELy

É isso mesmo, sinal dos tempos. Li Shufu e é um dos homens mais importantes da indústria automotiva mundial. Apesar de ser um nome desconhecido para a maioria, rivaliza com executivos do quilate de Carlos Tavares, chefão da Stellantis, ou Elon Musk, fundador da Tesla.

Se falarmos dele apenas como dono da Geely, a empresa chinesa que em 2010 simplesmente comprou a sueca Volvo, a história começa a mudar. Foi esta operação que lhe deu visibilidade, e a partir disso se transformou numa das figuras principais do mundo do automóvel.

Este é o resumo da história de Li Shufu, o chinês dono de muita coisa. Poderá até ser uma pessoa de hábitos exagerados, mas é um empresário capaz de tornar todos os seus sonhos reais.

Segundo a revista Forbes, Li Shufu tem uma fortuna avaliada em US$ 21 bilhões. Números que fazem dele o 14.º homem mais rico da China e o 62.º mais rico do planeta.

Filho de agricultores da região de Taizhou, província chinesa de Zhejiang, Li Shufu teve uma infância humilde, mas com os automóveis sempre presentes. Há nove anos, em entrevista à revista Forbes, que ainda criança, na praia, enquanto os seus amigos faziam castelos na areia ele preferia usar moldar automóveis: “Vivíamos numa aldeia agrícola, não tínhamos dinheiro para comprar brinquedos”, explicou, lembrando que nunca imaginou um dia “fabricar um carro de verdade”.

E foi na praia que começou a empreender. Seu primeiro negócio foi fotografar turistas. Com um empréstimo de dinheiro do seu pai, Li Shufu —apenas 19 anos— comprou uma câmera fotográfica e começou aí a sua trajetória no mundo dos negócios.

Li Shufu adolescente a andar bicicleta
O jovem Li Shufu e a sua inseparável bicicleta.

Em pouco meses já tinha montado um estúdio, e então decidiu começar a diversificar seus negócios. Da fotografia passou para o desenvolvimento e produção de acessórios para máquinas fotográficas. Foi o primeiro indício do seu espírito empreendedor.

Depois da fotografia vieram os estudos. Formou-se em engenharia pela Universidade de Yanshan, mas manteve-se envolvido neste negócio até os 23 anos, época em que fundou a Geely. E foi também nesse momento que tudo realmente começou.

Ele nasceu em 1963 e a Geely foi fundada em 1986, iniciando suas atividades produzindo componentes para eletrodomésticos.

Só seis anos mais tarde é que a Geely abandonou os eletrodomésticos e começou a se dedicar aos veículos, inicialmente motocicletas, outra das paixões de Li Shufu. Em 1998 iníciou da produção de pequenos veículos comerciais e, um ano depois, a Geely recebeu a ambicionada autorização para produzir automóveis, o que aconteceu em 2002, já com o nome Geely Auto.

Li SHufu e um dos primeiros automóveis da Geely
A Geely tornou-se a primeira marca não estatal de veículos da China.

Os primeiros automóveis da marca eram “inspirados” nos pequenos Daihatsu Charade, na verdade cópias de baixa qualidade, mas suficientemente eficientes para convencer os consumidores, e isso deu força ao jovem empreendedor para continuar a apostar nas quatro rodas.

Em 2003 a Geely passou a ser cotada na bolsa de valores de Hong Kong, tornando-se na primeira fabricante de veículos a conseguir isso.

Por tradição e legislação, as marcas chinesas procuram acordos junto aos gigantes do setor, mas Li Shufu tinha outra abordagem em mente.

Em 2010 apresentou-se ao Ocidente, adquirindo —por meio da Geely— a Volvo Cars que era da Ford, negócio que rondou US$ 2 bilhões.

Esta aquisição transformou a Volvo numa marca chinesa? Os fatos seguintes mostram que continua sendo uma marca mais sueca. Os centros de coimando da empresa mantiveram-se na Suécia, e a Volvo recorre a tecnologias e plataformas próprias.

Depois de adquirida pela Geely, houve o renascimento e crescimento da Volvo, que teve início com o lançamento da segunda geração XC90, estreando a plataforma SPA.

Em 2013, por meio do Zhejiang Geely Holding Group —da qual é fundador e presidente— Li Shufu continuou a conquistar mercado na Europa. Depois da Volvo veio outra empresa de destaque: a London EV Company (LEVC), empresa que produz o táxi londrino.

O interesse pelas marcas inglesas manteve-se. Em 2017 passou a ser o acionista majoritário da Lotus, tendo assegurado simultaneamente o controlo de 49,9% da Proton, da Malásia.

Com exceção do próprio Li Shufu, ninguém podia apostar no sucesso da Geely. Em 2021 a Zhejiang Geely Holding Group produziu 2,2 milhões de automóveis.

lotus Eletre
O Eletre é o primeiro SUV 100% elétrico da Lotus e aponta um caminho diferente da histórica marca para o futuro: será fabricado integralmente na China. Os esportivos vão continuar sendo produzidos no Reino Unido, mas elétricos.

No ano seguinte, em 2018, a Geely investiu US$ 3,5 bilhões no Volvo Group —a antiga empresa-mãe da Volvo Cars— em especial pelo interesse nos caminhões e máquinas do fabricante sueco, garantindo com isso uma fatia de 8,2% das ações da empresa.

Naquela época, ninguém mais duvidava da capacidade financeira da Geely. Mas o empresário chinês conseguiu voltar a surpreender o mercado. No mesmo ano de 2018, decidiu comprar -de maneira particular- participação de 9,69% da Daimler AG, que na época era proprietária da Mercedes-Benz e da Smart.

Li Shufu Dieter Zetsche Daimler
Li Shufu e Dieter Zetsche, chefão da Daimler, agora denominada Mercedes-Benz Group AG, que no total conta com 19,67% de capital chinês: 9,69% pertence a Li Shufu e 9,98% pertence ao BAIC Group.

Um ano depois, em 2019, a Daimler e a Zhejiang Geely Holding Group Co. estreitaram ainda mais as relações. Anunciaram a formação de uma joint venture para desenvolver e gerir a Smart. Cada empresa ficou com 50% da marca.

Apesar de continuar sediada na China, a Zhejiang Geely Holding Group é cada vez mais global. A influência de Li Shufu é cada vez maior e tudo indica que vai continuar a crescer. Basta recuarmos alguns meses. Em setembro de 2022, o Grupo adquiriu uma fatia de 7,6% da Aston Martin Lagonda Global Holdings, depois de em maio daquele mesmo ano ter comprado 34,02% do capital social da Renault Korea Motors.

No total, Li Shufu controla mais de uma dezena de fabricantes: Geely Auto, Maple, Jidu Auto, Farizon, Geometry, Radar, Zeekr, Proton, Lynk & Co, Lotus, Smart, LEVC, Volvo e Polestar. E a sua importância também já se faz notar em outras áreas.

Lynk & Co 01
A Lynk & Co foi uma marca criada em 2016 pela Geely e pela Volvo. Oferece uma ampla gama de modelos, a maioria eletrificados e tem um modelo de vendas direto, majoritariamente por assinatura.

Em dezembro de 2017 adquiriu a totalidade da Terrafugia, fabricante norte-americano que está tentando tornar os carros voadores numa realidade. Em setembro de 2019 voltou a apostar neste negócio, liderando uma rodada de investimento que gerou US$ 55 milhões para a Volocopter, empresa alemã focalizada no desenvolvimento de “táxis voadores”.

Volocopter
Volocopter 2X em testes

E nem as origens da Geely, que antes de produzir automóveis produziu motos, foram esquecidas. Por meio da Qianjiang Motorcycle, a Geely controla ainda a Keeway Motors e a Benelli, esta última uma conhecida e antiga marca italiana.

No Brasil, a Geely vendeu o sedã EC7 e GC2 entre 2014 e 2016, operação com o Grupo Gandini, que trazia os carros do Uruguai, onde eram montados. Cerca de 1200 carros foram vendidos aqui. Em 2019, a empresa iniciou negociação com o grupo HPE, responsável pelas marcas Mitsubishi e Suzuki aqui no País. A ideia era produzir seus carros aqui, mas o projeto não foi adiante. Não há mais informações sobre um possível retorno da marca ao nosso mercado.

O Geely EC7, que foi vendido no Brasil: preço alto atrapalhou.

Resta agora saber qual será o próximo passo do surpreendente Li Shufu, cada vez mais o “dono de tudo”. Sua carreira é realmente impressionante: de fotógrafo de paria a um dos mais importantes executivos da história do automóvel, exemplo de que sonhos podem, sim, se tornar realidade.


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