Classic Cars

Ford Escort RS Cosworth: a história da asa traseira

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O Ford Escort RS Cosworth, lançado em 1992, para quem acompanha a história do automóvel, é um carro que dispensa apresentações. No Brasil, é praticamente desconhecido, e pouquíssimas unidades chegaram por aqui. Ganhou, por seus próprios méritos, o status de legendário do World Rally Championship.

Ford Escort RS Cosworth, terceira asa

Hoje, é um dos carros mais desejados entre os fabricados nos anos 1990, fruto do seu desempenho nos ralis e nas ruas, e até por seu visual. É impossível não reparar na sua principal característica, a radical asa traseira, que se tornou numa das imagens do modelo. Mas, de acordo com o seu projetista, era para ser ainda mais radical. Confira aqui a história desse carro.

Frank Stephenson, ex-chefe de design da McLaren, e também o desenhista por trás de máquinas tão diferentes, como o Ferrari F430, o Mini R50 ou o Fiat 500, teve no Escort RS Cosworth um dos seus primeiros projetos profissionais, após completar os estudos. E agora compartilhou com o mundo como foi desenhar o “Cossie”, diminutivo carinhoso de Cosworth .

Em mais um vídeo da sua série “How I designed” (“Como é que desenhei”), desta vez abordou como chegou àquela asa traseira no teoricamente modesto Escort.

O objetivo do projeto do Ford Escort RS Cosworth era o de competir e, mesmo no mundo dos ralis, há a necessidade de manter o carro “colado” à pista em todas as ocasiões, para o máximo de eficácia em termos de aderência e penetração aerodinâmica. Por isso o projeto ganhou, rápido, um cuidado predominantemente aerodinâmico.

Para isso, a parte traseira teria, naturalmente, particular atenção e destaque no trabalho. Para garantir a sustentação negativa (“downforce”) necessária, o aerofólio traseiro precisou crescer de maneira exagerada, mas mesmo assim não foi suficiente. Logo numa fase inicial, a imressionante asa traseira que hoje conhecemos, rapidamente ganhou forma, mas Frank Stephenson foi mais longe.

Ford Escort RS Cosworth, terceiraasa
A asa tripla do RS Cosworth: impressionante.

Desenhistas novos, como ele era naquela época, com mais “sangue nos olhos”, não tinham tanto medo de arriscar em soluções radicais. E radical foi o trabalho que ele fez.

A inspiração, claro, foi aeronáutica, vinda do Fokker Dr.I —avião de combate usado na Primeira Guerra Mundial (1914-1918)—, que se destacava pelas suas três asas (era um triplano) e que ganhou notoriedade por ter sido o avião do temido piloto alemão conhecido como “Barão Vermelho”. Stephenson adicionou o conceito no Escort RS Cosworth.

Fokker Dr.I
O triplano Fokker Dr.I, a inspiração de Frank Stephenson, aqui numa representação atual.

De acordo com ele, não só daria uma aparência espetacular ao futuro carro de rali da Ford como, acreditava ele, funcionaria do ponto de vista aerodinâmico como desejado. E funcionou…

No entanto, apesar da eficiência comprovada da solução, para cortar nos custos de design, materiais e produção, a Ford decidiu eliminar a asa intermédia, antes de mandar o recurso para a produção. Na verdade foi uma economia de, talvez, cinco marcos alemães (na época), o equivalente a U$ 3.

Isso mesmo, no mundo do automóvel tomam-se decisões desse tipo por pequenos valores como este, e até mesmo por centavos, pois temos que ter em conta que serão multiplicados por milhares de unidades produzidas.

Mas isso não foi impedimento para garantir o desempenho necessário do Ford Escort RS Cosworth nas competições e nas ruas, mas como Frank Stephenson afirma no vídeo:

“Para mim, senti sempre que fosse como uma criança que tivesse nascido com nove dedos, ao invés em vez de 10”.

Ford Escort RS Cosworth
A asa dupla, como foi adotada de fabrica.
Ford Escort RS Cosworth, terceira asa

O Ford Escort RS Cosworth, com a asa tripla, do programa “Wheeler Dealers” (“Joia sobre rodas”) encontra-se à venda nos Estados Unidos.

“Jóias Sobre Rodas”

Muitos anos depois, já neste século, num dos episódios do conhecido programa Wheeler Dealers  (no Brasil “Jóias Sobre Rodasd”) de 2017, surgiu um Ford Escort RS Cosworth para recuperar. Mike Brewer e Ant Anstead, com a ajuda do próprio Frank Stephenson, decidiram dar a este Escort RS Cosworth a ainda mais impressionante asa traseira —ou melhor, asas—, tal como foi projetada originalmente.

E isso foi feito. E o melhor de tudo é que, após levarem o RS Cosworth a um túnel de vento, puderam comprovar a eficácia da asa adicional, com os valores de downforce subindo em pouco mais de 11 kg a 160 km/h.

Agora, esse mesmo Ford Escort RS Cosworth 1995, mostrado no “WheelerDealers” encontra-se à venda pela Northwest European nos Estados Unidos.  Interessado? Confira aqui.

Hoje fica a dúvida. Deveria o Ford Escort RS Cosworth ter saído de fábrica com a tripla asa traseira, como Frank Stephenson pretendia? Ou a asa traseira dupla, que sempre conhecemos, orna melhor com o visual do carro? A verdade é que, com qualquer das asas, ou até sem ela, como um desses exemplares roda em São Paulo, fica muito bem em qualquer garagem.



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