Classic Cars

Há 60 anos, o quase desastrado lançamento do Jaguar E-Type

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O Jaguar E-Type foi um daqueles modelos que, assim que foi apresentado ao público, entrou para a história do automóvel. Até porque, no Salão de Genebra de 1961, no momento em que foi exibido, Enzo Ferrari o classificou como “o automóvel mais bonito do mundo”. E, até hoje, a grande maioria dos apaixonados por automóveis mantém este ponto de vista.

por Ricardo Caruso



Vamos lembrar um pouco desta história. No início de março de 1961, há 60 anos, estes novos modelos da Jaguar quase não chegaram a tempo da estreia no evento suíço, devido a alguns acontecimentos que são, de certa forma, marcantes e que hoje em dia fazem parte da história da marca britânica.

Jaguar E-Type Series 1 (XK-E Series 1) 🚘 | Jaguar Rules



A Jaguar decidiu antecipar a exibição de uma unidade do modelo cupê para algumas revistas de época, com tempo bastante curto. No entanto, alguns jornalistas mais espertalhões aproveitaram esta oportunidade para testar o veículo e até alcançar velocidades que na altura eram consideradas dignas de carros de corrida.

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Por este motivo, enquanto os jornalistas testavam o E-Type, o chefão de relações públicas da marca, Bob Berry, percebeu que já tinha perdido a hora de transportar os carros para o Salão de Genebra, tomando a decisão de ser ele mesmo quem iria conduzir o automóvel, para embarcar na balsa que iria partir de Dover. Mas a chuva e a neblina acompanharam a aventura até Reims, na França.

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Assim, atrasados para a apresentação oficial, e na tentativa de recuperar o tempo perdido, Berry embarcou na mais louca viagem da sua vida. Quando chegou a Genebra faltavam apenas 20 minutos para a apresentação do carro.

Quase não houve tempo para que o E-Type fosse limpo e preparado para que ser apresentado ao mundo. William Lyons, o presidente da Jaguar na época, disse: “Berry, pensei que você não ia chegar”… Isso certamente custaria seu empego.

De acordo com Bob, esta foi a única viagem que fez sempre com o pedal do acelerador no fundo, história também confirmada pela Jaguar. Berry confirmou ainda que esta foi a viagem mais incrível de toda a sua vida e que, dificilmente, alguma vez a esqueceria.

Talvez a história mais emocionante fosse a de Norman Dewis, o piloto de testes da Jaguar, que estava ainda em Coventry com o E-Type conversível. Lyons não tinha planejado apresentar as duas versões em Genebra, talvez por não estar esperando uma reação tão positiva ao modelo. Mas a resposta dos jornalistas e do público ao cupê foi tão intensa que o fez mudar de ideia.

William Lyons ligou a Dewis e disse “largue tudo o que está fazendo e traga o E-Type conversível para cá imediatamente.” Dewis completou a mesma viagem que Berry tinha feito, apenas com uma ligeira diferença: demorou apenas metade do tempo.

Norman Dewis, que faleceu em Junho de 2019, reviveu esta história, pouco tempo antes da sua morte.


O piloto de testes relembrou que eram tempos em que não existiam estradas boas ou itinerários principais, fosse na França ou na Inglaterra. “Eram na maioria estradas de duas pistas, atravessando pequenas cidades durante todo o percurso, incluindo postos de controle alfandegários e fronteiras. A minha média foi de 68 mph, cerca de 109 km/h, incluindo a travessia da balsa”.

Dewis completou sua narrativa dizendo que, assim que Bob Berry o viu chegar, aproximou-se dele e disse “ainda bem que você chegou. Olha para o tamanho daquelas filas”.

De fato, a multidão encontrava-se em êxtase, após ver estes automóveis. Tão em êxtase que, durante os dias do Salão, foram encomendados cerca de 500 E-Type.

Quando os dois Jaguar voltaram a Inglaterra, tinham rodado o total de 3400 milhas, cerca de 5471 km, um bom presságio para a marca que ainda se encontrava com os protótipos em pré-produção e que, obviamente, não se encontravam preparados para este tipo de uso intensivo.

Ambos os veículos ainda existem. O cupê, com a placa 9600 HP, está numa coleção privada, e o conversível, com a placa 77 RW, encontra-se na coleção da própria Jaguar, com possibilidade de ser exposto no Museu Britânico.

Se por algum motivo estes automóveis não tivessem chegado a Genebra a 60 anos atrás, teria sido uma situação embaraçosa para a marca e, certamente, iria ter impacto enorme no entusiasmo dos novos clientes que a Jaguar precisava angariar. No fim de contas, o que interessa é que os carros chegaram ao destino e que histórias como estas ajudaram a dar início à produção do E-Type, um modelo que continuou sendo produzido durante 13 anos.


Há alguns anos, a Jaguar anunciou que ia produzir aquilo que hoje é designado como “Continuation Series”, dos seus mais famosos modelos, onde está incluído o E-Type (abaixo).



No entanto, a marca decidiu que neste ano de 2021 o E-Type merecia a sua própria homenagem. Para comemorar os 60 da sua apresentação, a Jaguar colocou à venda 12 exemplares do modelo E-Type, nas mesmas cores que os modelos mostrados no Salão de Genebra. No entanto, os automóveis só poderão ser comprados como em pares, ou seja, um cupê e um conversível. Ainda não foram anunciados os valores, mas estima-se que os preço-base desta Continuation Series será na faixa dos US$ 440 mil cada.

Existe algo especial sobre estes E-Type 60 Collection. Estes exemplares são E-Type da primeira geração, não réplicas. Estão serndo reconstruídos totalmente e vão ser modernizados. As suas cores, “Flat Out Grey” e “Drop Everything Green”, vão ser reproduções exatas dos exemplares que foram mostrados no Salão de Genebra, como forma a homenagear os dois protótipos iniciais. Além disso, a Jaguar fez a promessa de que nunca mais nenhum outro Jaguar será produzido nestes tons.

Os atrasos para o Salão Internacional de Genebra proporcionaram a oportunidade de adicionar algo ainda mais especial aos novos Jaguar E-Type. Será preciso esperar mais um ano para que possam ser terminados todos os veículos, e inclusive, a marca anunciou que alguns já estão concluídos e até mesmo vendidos.

Chegando o ano de 2022, também conhecido como “o ano que vem”, todos irão ser levados de Coventry até Genebra para o grande evento, através das mesmas estradas que os protótipos percorreram para chegar ao destino em 1961, mas desta vez, obedecendo a todos os limites de velocidade…


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