Classic Cars

Nucleon 1958: o Ford atômico

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O Ford Nucleon não existiu, e se limitou a apenas uma maquete na escala 1/8, que ficou muito tempo desaparecida. Foi desenvolvido pela marca em 1958, como um estudo para um automóvel movido a energia nuclear.

por Ricardo Caruso

Isto porque, nos anos 1950 pensava-se que a energia nuclear era o futuro, ou seja, que se conseguiria ter energia quase infinita e barata, sendo o Nucleon o projeto mais ambicioso da Ford até então. A ideia veio do recém-chegado projetista Jim Powers, no primeiro ano em que estava trabalhando no Ford Advanced Studio. Impressionado pelos desenhos apresentados por Powers, Alex Tremulis o encorajou para avançar com a construção de uma miniatura, primeiro em argila e depois em fibra de vidro.

O modelo foi apresentado ao público pela primeira vez na exibição de um evento da Ford, o Stylerama. O projeto em fibra de vidro foi finalizado com pintura na cor Candy Apple Red, com teto em cinza. Após estar desaparecido por anos, foi encontrado em algum depósito pela Smithsonian Institution em 1981. Posteriormente a Ford restaurou o carrinho, que foi pintado de um tom de vermelho bem chamativo, e posto em exposição no Henry Ford Museum, em Dearborn, Michigan.

Como dissemos, este automóvel não teria motor de combustão interna. Ao invés disso, era movido por um pequeno reator nuclear na traseira, baseado nos estudos feitos de que, um dia, se conseguiria reduzir as dimensões e o peso dos reatores para aplicá-los em carros. Este veículo usaria uma máquina a vapor movida por fissão de urânio, semelhante àquelas encontrados nos submarinos nucleares. Em outras palavras, uma cápsula radioativa converteria a água em vapor a alta pressão para girar as turbinas, que moveriam as rodas por meio de um ou mais conversores de torque e ainda gerariam eletricidade.

O Nucleon teria duas turbinas, uma fornecendo o torque necessário para mover o automóvel, e a outra seria usada para mover o gerador elétrico. O vapor seria condensado num sistema de refrigeração e enviado de volta para o gerador para ser reutilizado. A cápsula seria reabastecida em postos de abastecimento nucleares a cada 8000 km. Os engenheiros da Ford acreditavam que, no futuro, os postos de abastecimento de combustível seriam substituídos por pequenas centrais nucleares, para atender este tipo de automóveis. O motor não poderia ser retirado do automóvel, por isso, os clientes tinham a liberdade de escolher a cápsula que melhor se adequava ao seu uso. Além disso o Nucleon seria bastante silencioso e não iria expelir nenhum poluente.

A aerodinâmica também não foi esquecida. O pára-brisa eram em uma só peça, e as duas barbatanas traseiras eram inspiradas nas naves espaciais da ficção científica dos anos 1950. Nele estavam presentes outros aspectos dos veículos da época, como o estilo “cab-forward” (“cabine avançada”), que também foi utilizado no Ford Econoline, assim como serviu de inspiração para o Lincoln Continental de 1961.

O habitáculo estava bastante à frente, estendendo-se para além do eixo frontal. O objetivo era os passageiros estarem o mais longe possível do reator e também para ter melhor distribuição de peso. Outro aspecto prático são as entradas de ar junto ao teto (rente ao alto do para-brisa) e na base das colunas traseiras, que supostamente seria para o sistema de arrefecimento do reator. O mundo queria entrar na Era Atómica e o motor de combustão interna seria algo do passado. Segundo o projeto, seria possível a construção de reatores menores e mais leves, algo que até hoje, não aconteceu.

Como seria justificável, este automóvel nunca foi construído. Apesar de ser econômico, andar pelas ruas com um centro de radioatividade na traseira não era o mais seguro e era na verdade algo impraticável. Naqueles tempos, muitas pessoas ainda ignoravam os perigos da radioatividade, e o fato assustador era que, em um acidente ou falha, aconteceria um desastre nuclear. Mas mesmo assim o Nucleon foi bastante bem recebido, e o governo americano chegou, inclusive, a apoiar a Ford nas suas pesquisas em motorizações atômicas.

Quando o Nucleon foi apresentado, o Argon National Laboratory, de Chicago, ficou bastante interessado no projeto e pediu à Ford todas as informações que poderiam ser repassadas. Posteriormente, as pessoas ficaram mais conscientes do risco da energia nuclear, deitando por terra todos os projetos de veículos associados a este tipo de energia. O Nucleon é um ícone da “Era Atômica e deve-se considerar que não foi produzido não por ser impossível, mas porque ninguém tentou.

Curiosamente, o Ford Nucleon serviu de inspiração para os automóveis do game “Fallout”.


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