Classic Cars

QUANDO A OPEL INSTALOU FOGUETES EM SEUS CARROS

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No final dos anos 1920, últimos meses em que a familia Opel dirigiu a empresa criada em 1862 por Adam Opel, seu neto Fritz promoveu uma série de testes com modelos que são considerados os primeiros passos da indústria automobilística na propulsão a jato: os carros-foguete. Por isso, não seria exagero plagiar Elton John e chamar von Opel de “Rocket Man”.

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Nos anos anteriores ao auge do partido nazista, a Alemanha vivía uma época de muitos estudos científicos em campos diversos. Um deles era a propulssão com foguetes. Era 1926 e, na Universidade Técnica de Berlim, Herbert Obert desenvolvía o primeiro combustível líquido para esses motores.  

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Ao mesmo tempo, o astrônomo e piloto Max Valier publicava matérias intituladas “De Berlim a Nova Iorque em uma hora” ou “Viajar a Marte”. Valier havia fundado a Sociedade para o Vôo Espacial da Alemanha, e era fascinado pela aplicaçao prática das invenções que seus amigos cientistas teorizavam. Em 1927 pediu apoio para Fritz von Opel, famoso piloto de competição e neto do fundador da Opel, primeira montadora alemã. Além disso, von Opel era um emprendedor.

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Fritz havia acabado de ser nomeado Chefe de Assuntos Públicos da Opel, e se entusiasmou com as idéias de Valier e o potencial em termos de publicidade que algo assim podia trazer para a sua marca. Marketing numa época em que isso não era aplicado. Contataram Friedrich Wilhelm Sander, que era engenheiro especializado em explosivos, famoso na época por ter criado um artefato que lançava cabos a barcos, para poder rebocá-los.

A bateria de foguetes, instalada no RAK 2.
A bateria de foguetes, instalada no RAK 2.

Nos meses seguintes, Sander fabricou uma série de foguetes que enviava para Rüsselsheiim, onde von Opel e Valier os instalava em veículos de duas e quatro rodas. O circuito oval próximo da fábrica da Opel viu as prrimeiras voltas do Rak-1. Os resultados não foram espetaculares, mas mesmo assim von Opel decidiu gerar a maior publicidade possível em torno do assunto. O protótipo chegou aos 75 km/h. Enviados da General Motord visitaram a fábrica do grupo naquele ano e ficaram impressionados com a organização e eficiência de produçao, típica dos alemães até os días de hoje.

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Impressionante: ninguém morreu nessas motos…

Com certeza a família Opel estudou bem a publicidade que conseguiria com os foguetes, e como isso incrementava o valor da marca diante da possível compra por parte dos americanos.

Von Opel se deu conta da oportunidade de entrar para a história por meio desse projeto. E decidiu pilotar o protótipo seguinte, o Rak-2. O evento aconteceu no circuito de Avus, situado em Berlim, com 8,3 km de extensão, incluindo duas retas largas e longas e duas curvas muito inclinadas.

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A imprensa e cerca de 3.000 pessoas ali reunidas ficaram impressionadas ao ver o carro, que usava um chasso do Opel 10/40 CV, com duas enormes asas laterais levemente incinadas para baixo, um dos primeiros exemplos de aerodinâmica aplicada em automóveis. O Rak-2 levava 24 foguetes na traseira, com 120 kg de pólvora, que entravam em ignição de dois em dois, por meio de um circuito elétrico que era acionado ao se pisar no acelerador, permitindo empucho de 6.000 kg. A perícia do piloto impediu uma tragédia, pois as asas não estavam inclinadas o suficientes para evitar que o Rak-2 decolasse.

Apesar do incidente, o Rak-2 bateu o recorde de velocidade, com 238 km/h. Foi nesse dia 3 de maaio de 1928 que von Opel ganhou dos jornalistas da Alemanha e dos Estados Unidos o apelido de “Rocket Fritz”, e aproveitou para anunciar seus planos para o futuro: voar com um avião impulsionado por foguetes.

Ele e Sander passaram a procurar um avião em que pudessem acoplar algumas de suas engenhocas, e logo encontraram alguns projetos de Alexander Lippisch, que foi um dos pioneiros da aerodinâmica moderna. Na época, o inventor se dedicava a construir protótipos de aviões sem motores e com grandes asas para sustentação.

Durante alguns meses, o inventor deixou de lado vários de seus projetos para se dedicar a modificar um de seus avioes, chamado Ente. Conseguiu fazê-lo voar com algum sucesso, mas no segundo teste ele explodiu e Lippisch abandonou a idéia. Von Opel não estava conformado com o resultado, e por isso contatou outro construtor, Julius Hatry, para que fabricasse o primeiro avião especialmente desenhado e projetado para esse tipo de propulsão. Um pouco antes –em junho de 1928- haviam construido um vagão de trem, o Rak-3, impulsionado por foguetes, que explodiu no segundo teste sem deixar vítimas. Mas na primeira tentativa já havia estabelecido o recorde mundial de velocidade sobre trilhos, com 254 km/h. Algumas motos também ganharam foguetes, e é um milagre que ninguém tenha morrido as testando.

Em 30 de setembro de 1929, dante de uma grande multidão, imprensa e uma equipe de filmagem francesa, Fritz von Opel decolocou com um avião fabricado por Hatry e que levava 11 foguetes. Tinha empucho  de 25 kg; voou por 80 segundos, atingiu  25 metros de altura e chegou a 150 km/h

Nessa época, a familia Opel já havia quase finalizado o acordo de venda para a GM, que pagou US$ 33 milhões pela marca alemã. Depois disso, o programa de desenvolvimento dos foguetes foi cancelado, mas deixou a história dos primeiros motores a jato ligada à história da Opel.

OS VISIONÁRIOS

Sob a direção dos cinco filhos de Adam, o fundador da empresa, a Opel havia deixado de ser marca de máquinas de costura e bicicletas do começo do século 20, para se transformar na primeira marca de carros da Alemanha, em 1928, alcançando frapidamente quase 40% do mercado interno.

Quatro anos depois já havia incorporado o proceso de linha de montagem em sua fábrica de Russelheim, para começar a fabricar o 4/12 HP, conhecido como “Laubfrisch” (rã, em alemão), e que foi o modelo de maior sucesso da indústria de automóveis da Alemanha antes da Segunda  Guerra. Sem dúvida, o personagem de maior destaque da familia foi Fritz von Opel, que  acreditou e investiu nos carros-foguete como forma de buscar publicidade para a marca. Faleceu em 8 de abril de 1971. Seu filho, Rikky von Opel, foi piloto de Fórmula 1 entre 1973 e 1974.

O grande inspirador da aventura da Opel com os foguetes foi MaxValier. Personagem mítico da Alemanha nos anos 1920, continuou o projeto de carros-foguete por conta própria, depois do abandono de von Opel, em 1929. Graças aos seus contatos com cientistas, como Herbert Oberth, instalou num protótipo foguetes que queimavam combustível líquido feito com oxigênio e álcool. Chegou a alcançar 380 km/h no dia em que faleceu, 17 de maio de 1930, quando seu carro explodoiu durante um teste.

Wilhelm Sander também teve grande padticipação na criação dos carros-foguete, e em 1930 iniciou um projeto secreto para aplicação militar, dirigido por Walter Dornberger. Era os foguetes V-2 nazistas. Sander não era simpatizante do nazismo, por isso sua empresa foi desapropriada em 1938, e ele faleceu pouco depois na prisão.

Alexander Lippisch participou de todas as etapas do projeto que iria culminar com a criação de um avião a jato militar. Fez importantes contribuições para o desenvolvimento das asas voadoras, das asas em formato de delta e para a compreensão do efeito-solo. Seu mais famoso projeto foi o Messerschmitt Me 163 caça interceptador com motor a jato, empregado pela Luftwaffe durante a II Guerra Mundial. Os americanos o resgataram durante a Operação Paperclip e ele viveu nos Estados Unidos até falecer, em 1976. Já Julius Hatry viveu até o ano 2000 e colaborou com o desenvolvimento da indústria espacial européia.


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