30 ANOS DA MERCEDES QUE PROJETOU SENNA
Foi em novembro de 1982 que a Mercedes-Benz apresentou os “Baby Benz”, os modelos 190 e o 190E, que faziam parte da linhae W201. Era um carro bastante compacto para aquilo o que os tradicionais clientes da marca estavam acostumados até então. Mas foi o suficiente para iniciar a Mercedes-Benz num segmento em que ela não havia tido a coragem de explorar.
Com o 190, a marca ingressou no mercado de veículos compactos, algo que hoje em dia não assusta mais, pois os alemães desde 1993 comercializam as Classe C. Há 30 anos, as linhas mais ou menos retas do 190 ainda são bastante atuais nos modelos de hoje, mas a tecnologia aplicada mudou muito.
Batizado carinhosamente de “Baby Benz”, o 190 vinha equipado com as soluções mais avançadas da época. A suspensão traseira “multilink”, em que cada roda era mantida no lugar por cinco estruturas independentes, garantia conforto.
RECORDES
Após a apresentação do modelo em 1983, os 190 e 190 E estavam disponíveis apenas com motor 2.0, de quatro cilindros, alimentados a gasolina (90cv e 122cv). Logo depois, a Mercedes-Benz apresentou uma nova motorização, com 72 cv, a Diesel, por ocasião do Salão Automóvel de Frankfurt.
Nascia assim o 190 D. Ainda naquele ano, destaque para o 190 E 2.3-16, cujo motor era com quatro válvulas por cilindro e oferecia interessantes 185 cv. Era um verdadeiro esportivo, que teve como primeira prova de fogo o circuito italiano de Nardo.
Antes do lançamento do modelo 190E com motor 2.3 em setembro de 1983, a fábrica alemã se preparou em agosto daquele ano para tentar a quebra de recordes de velocidade de longa distância no circuito de Nardo.
COSWORTH
O modelo utilizado foi um 190E 2.3-16V, com 4 cilindros, 2.3, sendo o primeiro veículo Mercedes-Benz a ter quatro vávulas por cilindro. Este veículo tinha o cabeçote de 16 válvulas projetado na Inglaterra pela Cosworth, com injeção de combustível KE-Jetronic da Bosch, câmbio manual de cinco marchas, algumas alterações aerodinâmicas, além de um sistema inovador da suspensão traseira, auto ajustável.
Após 201 horas, 39 minutos e 43 segundos, (8,5 dias), dois dos 3 carros preparados para o teste percorreram mais de 50.000 km, quebrando o recorde mundial ao manter velocidade média de 247,939 km/h. Durante a prova, várias peças de reposição foram separadas para eventuais trocas, mas nada precisou ser substituído.
Os carros funcionaram perfeitamente apesar do extrema uso e desgaste que sofreram. O terceiro carro teve apenas o rotor do distribuidor quebrado, o que de acordo com os regulamentos da prova, foi reparado para a continuidade e término da prova. (não era permitido a troca da peça, mas sim apenas o conserto).
Nos anos que se seguiram, a Mercedes-Benz exportou os 190 D 2.2 e os 190 E 2.3 para o mercado norte-americano, e desenvolveu novos blocos, como o de cinco cilindros usado no 190 D 2.5 (90cv) e no primeiro seis cilindros usado na série, o 190 E 2.6 (166 cv).
SENNA
Conforme mencionado acima, este modelo 190E 2.3-16 teve seu lançamento oficial em setembro 1983 no Frankfurt Motorshow, mas outro grande fato curioso da família de chassis W201, foi na inauguração do novo circuito de Nurburgring – Alemanha, em 12 de maio 1984, no qual este modelo despertou à atenção da imprensa mundial e do grande público presente.
A Mercedes-Benz organizou em 25 de março de 1984 uma corrida para promover o lançamento do veículo, com 21 modelos 190E 2.3-16 idênticos, e convidou para participarem do evento os mais conceituados pilotos daquela época, entre eles Niki Lauda, Alain Prost, Keke Rosberg, Carlos Reutemann, John Watson, Denny Hulme, Jody Scheckter, Jack Brabham, Stirling Moss, James Hunt, Graham Hill, Alan Jones, Jacques Laffite e outros.
Mas quem aproveitou a chance e começou a escrever seu nome na história do automobilismo mundial foi um quase desconhecido brasileiro, Ayrton Senna, vencedor da prova, que pulverizou todos os conceituados adversários.
Para o grid de largada, a pole position ficou com o francês Alain Prost, seguido por Ayrton Senna em segundo e Niki Lauda em terceiro. A grande rivalidade entre Senna e Prost começou nesta corrida, pois após o francês largar em primeiro com Senna logo atrás, foi devidamente colocado para fora da pista pelo brasileiro.
Numa vacilada de Senna, Lauda assumiu a ponta e ficou na frente de Ayrton por algumas voltas. Mas Senna, com seu insuperável arrojo, foi à caça de Lauda até assumir a ponta novamente. Os dois travaram um duelo que deixou o público presente de pé nas arquibancadas.
Todos os carros eram exatamente iguais em sua configuração de motores, suspensão e pneus. O carro de Senna, número 11, foi perseguido até o término da prova por Niki Lauda, que cruzou a linha de chegada 1,58 segundo atrás do brasileiro. O prêmio ao vencedor da prova organizada pela Mercedes Benz, foi um modelo 190 E 2.3 16 preto. Mas para Ayrton, o prêmio maior foi poder ter exibido seu talento. A Mercedes número 11 dourada está guardada na coleção da marca alemã.
VENCEDORA
O top de linha era o 190 E 2.5-16 (195cv), apresentado em 1988 e que chegaria a despejar 235 cv. Claro que tendo em mãos um carro com estas credenciais, a Mercedes-Benz logo se inscreveu no Campeonato Alemão de Turismo, DTM, onde em parceira com a AMG o carro atingiu os 235 cv de potência. Em 1992, a marca venceu o DTM com o piloto Klaus Ludwig pilotando o AMG-Mercedes 190 E 2.5-16 Evolution II.
Os engenheiros da Mercedes-Benz realizaram dois “facelifts” no modelo, o primeiro em 1988 e o outro em 1991. Mais de 10 anos após a apresentação do 190 no mercado, em fevereiro de 1993 a fábrica de Sindelfingen cessou a produção da primeira geração deste veículo compacto. Os 190 passaram a ser produzidos na unidade de Bremen até agosto, sendo a maioria deles destinado à exportação.
Com o total de 1.879.629 unidades fabricadas, pode-se dizer que esta foi uma aposta ganha. Apenas em maio de 1993, quando a Mercedes-Benz apresentou o Classe C, também conhecido como W 202, é que o 190 desapareceu de vez.