Classic Cars

AMX/3 Bizzarrini, aquele que queria ser a Ferrari americana…

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A American Motors Corporation (AMC) é lembrada como uma fabricante de veículos de aspecto estranho, mas muito econômicos na sua época. Mas o protótipo esportivo AMX/3 foi um dos automóveis mais interessantes apresentados na década de 1970.

Quando a AMC tentou fazer um “Ferrari Killer”

A AMC foi uma empresa automotiva norte-americana criada em 14 de janeiro de 1954 pela fusão da Nash-Kelvinator Corporation e da Hudson Motor Car Company. Foi considerada na época a maior fusão corporativa da história dos Estados Unidos, no valor de US$ 198 milhões, quase US$ 2 bilhões nos dias de hoje.

American Motors AMX/3 - You Can Own Designer Dick Teague's Favorite Concept  Car - The Truth About Cars

As razões para a fusão entre Nash e Hudson incluíram a cooperação na redução de custos e fortalecer suas estruturas de vendas para atender a intensa concorrência do “Big Three”(Ford, GM e Chrysler). Em 1970 a Kaiser Motors foi anexada.

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A competição insana, somada ao declínio das vendas e aumento da concorrência no mercado americano forçou em 1979 uma parceria com a Renault, que durou oito anos. O objetivo era manter a escala de produção, suporte e a oferta de carros competitivos, mas o resultado não foi exatamente o esperado. Em 9 de março de 1987 a AMC foi comprada pela Chrysler Corporation e o uso das marcas American Motors e Renault foram encerradas nos Estados Unidos.

Os anos 1960 foram, sem dúvidas, gloriosos para a indústria automotiva americana, mas nem todos os fabricantes obtiveram naquela década a garantia de continuidade futura. Ainda assim, apesar dos persistentes problemas financeiros, havia alguns gênios automotivos nos edifícios corporativos da AMC.

Talvez o melhor exemplo da capacidade da AMC seja o supercarro de motor central AMX/3. O projeto era, no mínimo, ambicioso. A AMC tinha reputação de construir veículos que fracassavam por falta de qualidade e de qualquer emoção ao volante.

The untold story: AMX/3, Giugiaro and BMW | Hemmings

Esta era a mesma empresa que fabricava o Gremlin e o Pacer, portanto seria fácil fazer algo mais atraente, como foi o AMX/3. Ainda assim, este modelo não pretendia ser uma pura e simples aposta, mas um sério concorrente do popular De Tomaso Pantera, o similar esportivo de motor central feito com apoio financeiro da Ford.

Gremlin, no alto, e Pacer, acima. Hoje são clássicos, mas eram muito estranhos…

A tarefa de desenhar o AMX/3 foi entregue a Richard “Dick” Teague, já pertencente à AMC. Apesar do desenho do Gremlin constar do currículo de Teague, ele era considerado um gênio da área comercial. Portanto, quando lhe foi pedido que desenhasse algo que “roubasse” um ou dois clientes de Enzo Ferrari, Teague não economizou criatividade.

O seu trabalho enquanto designer foi verdadeiramente visionário ao nível do desenho automotivo, apesar das reduzidas verbas liberadas pela AMC para o projeto. O resultado final? Uma genuína obra de arte, algo facilmente confundível com algum dos melhores esportivos de sonho italianos.

Pictures of AMC AMX/3 1970–71

O desenho de Teague foi de tal forma impressionante, que os executivos da AMC rejeitaram um outro proposto por Giorgetto Giugiaro, um dos maiores designers de automóveis de todos os tempos, responsável por modelos como o Iso Grifo, Maserati Ghibli, De Tomaso Mangusta, Alfa Romeo Giulia Sprint GT, DeLorean DMC-12, Alfa Romeo 159, Lotus Esprit S1, e até o Volkswagen Golf Mk1.

No interior da exótica carroceria do AMX/3 estava um motor 390V8, que a AMC costumava utilizar em modelos de série, como o Javelin e o AMX. Contudo, a caixa de câmbio de quatro velocidades era fornecida pela italiana OTO Melara.

1970 American Motors AMX/3 (Vignale) - Concepts

Apesar da velocidade máxima esperada ser da ordem dos 260 km/h, chegar a este valor não seria tarefa fácil, já que o AMX/3, com carroceria em aço, pesava mais de 1360 kg. Para tornar a tarefa mais complicada, a AMC não era exatamente conhecida por construir veículos reconhecidos pela boa dirigibilidade.

Como forma de solucionar os problemas de suspensão, a AMC solicitou os serviços de Giotto Bizzarrini. Sim, o mesmo responsável pelo Bizzarrini Berlinetta, e por contribuições significativas para o Ferrari 250 GTO, assim como trabalhos com a Lamborghini e Alfa Romeo.

AMC [2] AMX/3 - All Car Index

Bizzarrini fez alterações cruciais na suspensão e aerodinâmica do AMX/3, mas foi capaz de deixar o desenho de Teague praticamente inalterado. Curiosamente, a empresa de Giugiaro, a Ital Design, juntou-se à equipe de engenheiros de Bizzarrini no desenvolvimento do protótipo AMX/3 entre dezembro de 1968 e junho de 1969.

1969 AMX/2 Concept Car and 1970 AMX/3 | HowStuffWorks

Apesar de ter sido desenvolvido em apenas sete meses e com sérias dificuldades em nível de recursos, o AMX/3 foi capaz de atingir os desejados 260 km/h, havendo ainda amplo espaço para melhorias, de acordo com quem testou o veículo na época. O grupo de engenheiros e técnicos que trabalhou no carro era pertencente à BMW, e apesar de algumas críticas, não pouparam meios para melhorar o modelo (talvez até como forma da marca alemã cair nas graças dos americanos) que, “apesar de promissor, carece de rigidez geral e estabilidade frontal”.

1969 AMC AMX/3 - Sports Car Market

Num teste posterior em Monza, o AMX/3 atingiu 273 km/h, um feito de enorme importância em 1970. Pondo a façanha no contexto histórico, o Ferrari Daytona alimentado por um V12 era apenas 7 km/h mais rápido.

Infelizmente, o AMX/3 não se concretizou. A criação de um supercarro desse nível tem custos altos, custos esses que se tornaram três vezes superiores aos do Ford Mustang. Para piorar, alterações legislativas relativas às carrocerias limitavam alguns aspectos do AMX/3.

Chicago Reunion – AMC AMX/3

Por fim, a AMC decidiu remover totalmente a verba do projeto, após a escassa produção de apenas seis exemplares. Dois desses veículos foram adquiridos por Teague, enquanto outro foi vendido por valores próximos de US$ 900 mil dólares num leilão em 2017.

Em nível financeiro, o projeto do AMX/3 representou prejuízo de US$ 2 milhões para a empresa de Detroit. A AMC falhou na sua ideia de produção anual de 5.000 veículos, mas dificilmente poderíamos dizer que a produção do AMX/3 foi um total fracasso. Aliás, foi um milagre trem conseguido construir um exemplar, imagine então seis.

É definitivamente uma das histórias mais esquecidas do mundo do automóvel, onde a AMC foi capaz de juntar as mais belas mentes da indústria automotiva para concretizar um supercarro honesto, apesar de nem sequer ter recursos para isso. É uma pena que a reputação da AMC seja eternamente associada a estranhos carros econômicos como o Gremlin ou o Pacer, porque o AMX/3 foi definitivamente um dos mais interessantes automóveis americanos de todos os tempos.


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