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Aniversário: os 100 anos de Carroll Shelby

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Carroll Shelby nasceu no dia 11 de janeiro de 1923, na pequena cidade de Leesburg, no Texas. Naquela época, havia menos de 300 pessoas morando naquele local, e entre eles havia um carteiro chamado Warren Hall Shelby, que era o pai de Carroll. Ele dirigia seu caminhãozinho do correio pelas estradas empoeiradas, e seu filho ia ao lado, com uma espingarda. Infelizmente, a criança, com sete anos de idade, foi diagnosticada com um problema cardíaco que não lhe permitia jogar bola ou fazer qualquer outra atividade física. Ainda assim, ele de vez em quando escapava do controle dos pais e tentava alguns lançamentos de baseball.

por Ricardo Caruso

Logo, ele e sua família se mudaram para Dallas, e novas oportunidades surgiram a partir disso. Seu pai já não era mais carteiro, e ele podia andar de bicicleta ao redor do quarteirão. E ele fez isso até ter idade suficiente para conseguir sua carteira de motorista. Isso aconteceu quando ele tinha apenas 14 anos. Seu pai, que amava carros, tinha um Dodge 1934. Um dia depois que o jovem Carroll tirou sua licença, ele dirigiu o carro por uma estrada asfaltada, de quatro pistas, e a polícia o parou. Ele estava a 130 km/h em uma zona de 50 km/h. Isso valeu uma gorda multa.

Suas habilidades de condução foram melhorando ao longo dos anos em seu Willys. Mas ele ainda queria ir mais rápido, e isso o levou ao Georgia Institute of Technology, no Aeronautical Program. Mas durou pouco tempo. Um mês antes do ataque a Pearl Harbor, em novembro de 1941, ele se juntou ao United States Army Air Corps e serviu como instrutor de voo e piloto de testes. Estranhamente, quando se alistou a comissão médica não notou sua condição cardíaca.

Após a guerra, ele foi dispensado e, com o dinheiro que juntou, tentou iniciar seu próprio negócio de caminhões basculantes, mas faliu. Seu destino não estava lá. Na mesma área onde ele morava havia uma pequena garagem com carros de corrida. Estes eram de uma marca menos conhecida na época nos Estados Unidos, chamada Aston Martin. Foi aí que a evolução da carreira nas corridas de Carroll Shelby começou. Ele estava envolvido com a equipe e, em 1954, correu em Le Mans. Infelizmente para ele e para a equipe Aston Martin Lagonda, o eixo dianteiro quebrou e eles abandonaram a prova.

A velocidade estava agora definitivamente nas suas veias, e ele só queria correr mais e mais provas. Assim, nos anos seguintes, ele entrou na Fórmula 1 com a Maserati, marcando alguns pontos. Mas a corrida de sua vida aconteceu em 1959 em Le Mans. Como ele lembrou em uma entrevista, eles venceram na frente da Ferrari devido a ter uma equipe melhor, não a um carro melhor. Enzo Ferrari era o tipo de homem que se envolvia em tudo, e nem sempre suas decisões eram adequadas. Assim, a Aston Martin venceu em 1959 com Carroll Shelby e Roy Salvatori ao volante, após 323 voltas extenuantes.

Ele continuou correndo, mas logo, devido ao seu problema cardíaco, teve que parar. Um dia, no autódromo de Laguna Seca, ele teve que tomar quatro comprimidos de nitroglicerina apenas para ficar controlar seu coração, e ele estava perdendo segundos preciosos toda vez que tinha que tomar medicamentos. Laguna Seca é uma pista curta, com apenas 11 curvas, e esses segundos que perdeu, não conseguiu mais recuperar. Então ele decidiu parar de correr e apenas construir carros.

Ele começou a correr aos 29 anos, em um carro britânico. Sua vitória em Le Mans foi em dupla com um piloto britânico. Então, é compreensível por que ele foi atraído pelos roadsters ágeis que chegaram do Reino Unido. Então, quando Carroll Shelby descobriu que a marca britânica AC teve problemas para encontrar um motor para seus roadsters, ele arranjou um acordo entre a Ford e a fábrica inglesa, e logo um pequeno motor construído pela Ford encontrou seu lugar debaixo de um capô AC.

Carroll Shelby disse que, para adequar o veículo, ele teve que substituir cada porca e parafuso do carro. Mas, no final, o roadster tomou forma, e ele cumpriu sua promessa à gerência da Ford de que construiria um carro com motor Ford que poderia deixar para trás o Corvette. Esse foi o começo do AC Cobra. De repente, o pequeno roadster britânico com o também pequeno motor americano estava sendo comentado. Além disso, em 1964, um músico de 17 anos escreveu a música “Hey Little Cobra” sobre o carro, que foi para o topo das paradas da Billboard americana. Shelby também teve a brilhante ideia de anunciar o carro na revista Playboy, para o público essencialmente masculino.

Só para se ter uma ideia sobre o tipo de empresa que Cobra era: pessoas de várias partes do mundo foram trabalhar para Caroll Shelby. Era um negócio grande, de muita qualidade. E então, em 1964, o Mustang apareceu. Lee Iacocca não se esqueceu do “Mr Cobra”, e pediu-lhe para criar um carro esportivo a partir do exitoso pony.

A era dos muscle cars estava em plena ascensão, e a Ford queria um veículo para bater o Corvette nas provas da SCCA. Ainda assim, a categoria não queria considerar o Mustang como um carro esportivo de dois lugares. Mas Carroll Shelby fez isso acontecer. Ele nunca se acomodou e nunca aceitou um “não” como resposta. Mas ele tinha uma regra de vida muito sábia: “sempre saiba o que você não sabe e não chegue lá se você não estiver à altura”.

Sua equipe aproveitou o projeto para transformar o Mustang em um carro esportivo. Eles trabalharam dia e noite, e o GT350 nasceu. Mesmo que fosse mais caro que o Corvette, as pessoas ficaram loucas com o esportivo com base no Mustang. Ajustando a suspensão, instalando freios maiores e trabalhando o motor, o primeiro Mustang Cobra foi uma sensação, e milhares de pessoas queriam isso.

A bela história entre Ford e Shelby não terminou aí, no entanto. Seu objetivo maior era vencer a Ferrari em Le Mans. Não apenas ao volante, já que havia realizado isso, mas com seus próprios carros. Logo percebeu que seu Cobra sem capota aberta não poderia igualar a velocidade da Ferrari na reta de Mulsanne: ele precisava de uma carroceria fechada e aerodinâmica. Para isso, ele pediu a Pete Brock para desenhar uma carroceria, e a Cobra preparou o veículo, com uma pequena ajuda vinda de engenheiros que trabalhavam nos aviões Convair. O resultado foi impressionante. Alimentado pelo motor Ford 427, o Cobra Daytona Coupe atingiu 315 km/h, batendo a velocidade da Ferrari. E ele venceu sua categoria em 1963 com outros dois lendários pilotos de corrida ao volante, Bob Durant e Dan Gurney.

Mas Shelby Cobra era mais do que apenas uma pequena fabricante de carros esportivos. Era uma escola para futuros talentos, tanto nas corridas quanto na indústria. Um dos melhores exemplos foi Jochen Neerpasch, que correu pela equipe americana em 1964 em Le Mans. Infelizmente, a equipe abandonou após 10 horas devido a um problema técnico. Mais tarde, Neerpasch fundou a BMW Motorsport, e então o icônico BMW M1 nasceu.

Dois anos depois, a Ford venceu em Le Mans com o antológico GT40, ajudado pela Shelby American. Essa tripla vitória não foi apenas na frente da Ferrari, que chegou em oitavo lugar, mas também na frente da Porsche.

Carroll Shelby teve sucesso no mundo automotivo fazendo o que mais amava: construir carros de corrida. Em 2004, ele fez o último carro junto com a Ford, o Ford Shelby V10 Cobra de 2004. Desta vez, o alvo não era o Corvette, mas outro monstro americano V10, o Dodge Viper. Infelizmente, esse foi um veículo único, que nunca chegou à produção devido à crise financeira mundial. No entanto, provou que, mesmo aos 81 anos, Carroll Shelby ainda era perfeitamente capaz de criar carros icônicos.

É por isso que, quem realmente gosta de automóveis, deve tirar o chapéu e aplaudir toda a obra de Carrol Shelby. Sua história é única na indústria automotiva e no automobilismo. ele faleceu em 10 de maio de 2012, aos 89 anos. O nome Cobra ainda é exibido nos Mustang mais espetaculares que podemos ver nas ruas, ostentando a história e o legado deste homem legendário que foi Carroll Shelby


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