Citroën Méhari: 55 anos do minimalista dromedário de plástico
O ano de 1968 foi especialmente agitado na história da humanidade. Guerra do Vietnã, Primavera de Praga, morte de Jim Clark e Yuri Gagarin, primeiro transplante de coração no Brasil, assassinatos de Martin Luther King Jr. e Bob Kennedy, Beatles lançam o “White Album”, Elvis retorna de maneira triunfal aos palcos, Rainha Elisabeth visita o Brasil, a ditadura militar por aqui continuava matando e torturando, AI-5… E foi no dia 16 de maio de 1968, há 55 anos, no auge do movimento de contestação estudantil francês, que a Citroën apresentou o seu novo modelo, no campo de golfe de Deauville: o Méhari. Assumindo um atípico formato meio picape meio jipe, contava com motores de 28 a 32 cv e carroceria feita de plástico ABS (Acrilonitrilo Butadieno Estireno), criada por Roland de La Poype.
por Ricardo Caruso
Construído com base na plataforma do Dyane 6, foi inicialmente apresentado, quando do seu lançamento, com o nome Dyane 6 Méhari. Com uma carreira longa nas ruas, de quase duas décadas, entre 1968 e 1987, a produção totalizou 144.953 unidades (das quais 1.213 eram Méhari 4×4), o que significou um sucesso muito grande para carrinho tão diferente quanto simpático.
O Méhari foi produzido em maior número na fábrica da Citroën em Forest, na Bélgica, mas também em sete outras unidades fabris da França, Espanha e Portugal.
A designação Méhari deriva do nome masculino “Méhari” dado aos dromedários no Norte de África e no Sahara, animais conhecidos pela sua capacidade de lidar com todo o tipo de terrenos, pela sua resistência e pela sua sobriedade. O Méhari é (animal) também capaz de transportar mercadorias ou passageiros em longas distâncias. Assim, este nome é amplamente representativa do Citroën Méhari, conhecido pelas suas capacidades de adaptação a todos os tipos de terrenos. É um veículo com vasto número de aptidões e aplicações. O chamado “pau pra toda obra”.
Visto de fora, o Méhari não parece adequado a todas as estações climáticas, parecendo mais a um pequeno buggy conversível com vocação para as férias de verão. Graças ao uso de uma capota, o modelo ficava com o interior completamente isolado, tornando a sua utilização possível ao longo de todo o ano.
O Méhari foi projetado pensando em elevadas caraterísticas modulares, podendo transformar parte do seu piso num banco, acrescentando dois lugares traseiros e, assim, acomodar até quatro passageiros. Podia ser utilizado numa vasta lista de situações, deal para transportar diversos tipos de carga ou um número razoável de passageiros.
Inspirado no Citroën Dyane 6 e tendo por base a plataforma do Citroën 2CV, o Méhari usava um modesto motor de dois cilindros opostos de 602 cm3 .
A inteligente carroceria era composta por apenas 11 peças, facilmente reparáveis, e que podia ser lavada com uma simples mangueira, tanto no interior como no exterior. Isto tornava a sua manutenção extremamente simples e econômica para os seus clientes.
Hoje é uma forte recordação de infância para toda uma geração. Este conceito atípico, modular e econômico, concebido com materiais modernos para a época e carroceria inovadora, tornou-se um verdadeiro ícone da história do automóvel, e apesar disso, é pouco conhecido no Brasil.
Apesar de ter sido produzido durante quase 20 anos, o Méhari apenas teve três versões diferentes, incluindo duas edições limitadas. Em 1983 foram lançadas duas Edições Especiais: a primeira foi o Méhari Plage, com o seu visual de férias e a vistosa cor amarela, comercializado na Espanha e em Portugal; em abril de 1983 surgiu o Méhari Azur, lançado nos mercados francês, italiano e português em apenas 700 unidades.
Em 1979, a Citroën introduziu uma nova versão, 4×4, que oferecia liberdade de utilização ainda hoje quase inigualável, ainda mais considerando a relação custo/benefício.
O Méhari foi um veículo de particular interesse para diferentes entidades públicas, como polícias, alfândegas, aeroportos e hipódromos, entre outras, mas também para comerciantes, artesãos e mesmo uso particular. Teve, também, uma longa carreira no exército francês que, entre 1972 e 1987, usou o total de 11.457 unidades do Méhari.
Já o Méhari 4×4 fez também carreira como veículo de assistência médica em ruas e estradas de muitos países. Em 1980 participou no Rali Paris-Dakar, edição em que 10 Méhari 4×4 foram utilizados pelos serviços de assistência médica, ao longo do percurso. Por fim, o Méhari foi também protagonista de uma interessante carreira cinematográfica, em particular no famoso filme “Le Gendarme de Saint Tropez” de 1966, com Louis de Funès como protagonista.