Nova crise chegando: depois da Covid-19 e dos chips, agora é o magnésio
As montadoras vivem um interminável “inferno astral”, que começou com a Covid-19, está nos chips e pode chegar ao magnésio.
Depois da pandemia do Covid-19 e da atual falta de semicondutores (chips) no mercado, a indústria automotiva tem pela frente outra crise: a falta de magnésio. Isso mesmo. Os últimos anos têm sido desafiantes para a indústria automotiva, que já “brigava” com a transição para os carros elétricos. Além dos investimentos pesados para se reinventarem como construtores de automóveis movidos a eletricidade, (investimentos esses que não param), aconteceu a crise causada pela pandemia, seguida pela falta dos semicondutores, que continua a afetar a produção automotiva em nível global, inclusive no Brasil, e agora a novidade é a falta de magnésio.
por Ricardo Caruso
As consequências disso tudo são sentidas, em particular, na indústria, que tem lidado com racionamentos de energia, o que está forçando a parada temporária de muitas fábricas (que pode ir de várias horas por dia até vários dias por semana e algumas semanas por mês), incluindo as que fornecem o tão necessário magnésio para outras indústrias, como a automotiva. Como seria fácil prever, o preço do magnésio disparou, subindo para mais do que o dobro dos US$ 4700 por tonelada o ano passado. Na Europa, as reservas de magnésio estão a ser negociadas por valores entre US$ 9970 e pouco mais de US$ 14.000 por tonelada
Os mais velhos irão lembrar das “rodas de magnésio”, mas o magnésio vai além disso, e é um material crucial para a indústria automotiva. O metal é um dos “ingredientes” usados para fazer ligas de alumínio, que são abundantemente usadas na fabricação de carros, servindo para quase tudo: desde painéis de carroceria a blocos de motor, passando por elementos estruturais, componentes da suspensão ou tanques de combustível.
Não havendo magnésio, podemos ter a receita completa para o potencial desastre, que é parar toda uma cadeia indústria.
E por que falta magnésio? a resposta vem numa só palavra: China. O gigante asiático fornece 85% do magnésio que é necessário globalmente. Na Europa, a dependência do magnésio “chinês” é ainda maior, com 95% do magnésio necessário vindo justamente da China.
A redução no fornecimento de magnésio, que tem acontecido desde setembro, deve-se à crise energética com que a China tem-se debatido nos últimos meses, consequência de uma infeliz série de eventos. Desde as principais províncias chinesas produtoras de carvão terem sido afetadas por inundações (a principal matéria-prima usada para energia elétrica naquele país), ao ressurgimento da procura de bens chineses pós-confinamento, até às graves distorções do mercado (como o controle de preços), tudo isso são fatores para essa crise e a sua longa duração.
Junte-se a estes fatores internos outros aspectos externos, como eventos climáticos extremos, dependência excessiva das energias renováveis para produção de eletricidade ou níveis de produção decrescentes, e a crise energética chinesa não parece ter fim próximo à vista.
Líderes europeus dizem estar em conversações com a China para atenuar as necessidades imediatas de magnésio no continente, ao mesmo tempo que avaliam soluções a longo prazo para lidar e contornar esta agora indesejada “dependência estratégica”.