Blog dos Caruso

Xuxa, XR3, Gol GT, Monza S/R e os incríveis anos 80

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Os anos 1980 foram muito ricos em histórias no Brasil e no mundo. Foi entre 1980 e 1989, por exemplo, que o mundo teve seu maior avanço tecnológico, em especial na área da informática, evolução depois aplicada à exaustão nos carros. Não existiam a internet popular (só a militar), ou celulares, smartphones e laptops. Computadores pessoais eram raros, mas a eletrônica já apontava para esses caminhos. Hoje quase todos os recursos que usamos foram testados e consolidados naquele período. Videogame era Atari, hoje é Playstation, e as calculadoras científicas hoje são brinquedos de crianças.

Mas outros fatos fizeram dos anos 1980 uma época inesquecível. O fim da “Guerra Fria” aconteceu justamente nos anos 80 e trouxe a queda do Muro de Berlim, que reunificou as duas Alemanhas. No Brasil, foi uma década realmente preciosa. Passamos da ditadura militar para a democracia. Os exilados chegavam do exterior, incluindo na lista FHC, Fernando Gabeira e José Dirceu. Em 1980 o Papa João Paulo II fez sua primeira das três visitas ao Brasil. E foi também em 1980 que Frank Sinatra lotou o Maracanã; que Vinícius de Moraes morreu e o ursinho Misha emocionou o mundo no encerramento das Olimpíadas de Moscou.

Da linha dura dos generais Figueiredo, Newton Cruz e Golbery do Couto e Silva, choramos a morte de Vladimir Herzog e fomos para a campanha das “Diretas Já”; até o mundo do futebol se viu envolvido nessa “briga”, graças a “Democracia Corinthiana” do Dr. Sócrates, Casagrande e Wladimir. Mas logo veio a frustração de não conquistar a sonhada chance de eleger o presidente, e quando se alcançou isso, todos voltaram a chorar, dessa vez na morte do presidente eleito Tancredo Neves.

MENUDO E SARNEY

Enquanto isso as meninas vibravam com os porto-riquenhos do Menudo (com Ricky, Roy, Robby, Charlie e Ray, e depois um garotinho chamado Ricky Martin), Polegar, Dominó e até o Tremendo (“Todos batendo palma, isso é Tremendo…”). Era o Gugu e sua Promoart ganhando rios de dinheiro.

Tivemos que aguentar o vice-presidente José Sarney, a inflação de 80% ao mês, vimos nascer e morrer os planos econômicos e alguns incautos até viraram “fiscais do Sarney”, cantando o Hino Nacional em portas de supermercados, desesperados atrás de pedaços de carne, acreditando que as coisas poderiam mudar. De manhã as crianças assistiam “Balão Mágico” com a menininha Simony e o Jairzinho. Tinha também o insuportável “Xou da Xuxa” (o Xou, não a Xuxa, claro).

Foi o tempo de nova e pouco aplicada Constituição, e na virada da década de 1980 para 1990, Fernando Collor de Mello foi eleito: era o povo escolhendo o seu primeiro presidente, com 22 milhões de votos, contra 11 milhões de Luis Inácio da Silva, o então Lula. Lembram do debate editado pela Globo para favorecer Collor? E lembram do surpreendente Beijoqueiro?

No futebol perdemos as Copas de 1982 e 1986 com as melhores seleções dos últimos tempos. Mas tivemos o “Rock in Rio” e o Queen, enquanto na sociedade tivemos o aprofundamento da discussão das questões sociais e o fortalecimento do Partido dos Trabalhadores.

OS CARROS

Em 1980, o Brasil ainda vivia assustado com a ditadura militar, e em termos de indústria automobilística, as opções não eram muitas. A Chrysler produzia o Dodge 1800 e os Dart/Le Baron/Charger R/T. A Fiat, então a mais nova montadora instalada aqui, fazia o 147 e as Alfa Romeo 2300, enquanto a Ford tinha os Corcel II e Belina, Maverick, LTD e Landau, Rural, Jeep e pickup F-75. Das linhas de montagem da GM saíam os Chevette e Opala, Veraneio, C10 e D10. Já a Volkswagen fazia os Fusca, Brasília (inclusive quatro portas), Variant II, Kombi e SP-2. Em dezembro de 1980 John Lennon foi assassinado.

Por outro lado havia um criativo mercado de modelos fora-de-série e artesanais, entre eles os Bianco S e Tarpan, Santa Matilde, jipe Dacunha, Gurgel X12 e G15, Puma GTE/GTS/GTB, Jornada, Cheda e MP Lafer, e muitos outros. Em 1982 a equipe Fittipaldi encerrou suas atividades e, em 1984 Emerson Fittipaldi já começava outra etapa da sua carreira, correndo na Formula Indy.

Na música estava acontecendo uma revolução e, depois da Jovem Guarda dos anos 1960, o rock nacional voltou a ganhar força e criatividade. Acabara a chatice de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Naquela década surgiram conjuntos realmente bons, como “Barão Vermelho” com Cazuza; “Biquíni Cavadão”; o “RPM” de Paulo Ricardo (e as “Louras Geladas”); “Blitz”; “Camisa de Vênus”; “Capital Inicial”, “Engenheiros do Hawaii”; “Metro” (o baterista era o sujeito engraçado do anúncio da “Bonita camisa, Fernandinho…”); “Herva Doce”; “Ira”; o excelente “Ultraje a Rigor”; “Kid Abelha e os Abóboras Selvagens”; a incomparável “Legião Urbana” de Renato Russo; “Nenhum de Nós”; os “Pára-lamas do Sucesso”, de Herbert Vianna, “Plebe Rude”, “Titãs” (na época “Titãs do iê-iê-iê”) e outros que duraram bem menos, como “Absyntho” (aquele do “Ursinho Blaublau”), “Gang 90 e Absurdetes”, “Sempre Livre”, “Inimigos do Rei”, “Kid Vinil e Magazine” (“Eu sou boy”) e “Dr. Silvana” (“Serão Extra”).

Os cantores que começaram a fazer sucesso nos anos 1980 foram Guilherme Arantes, Lobão, Lulu Santos, Léo Jaime, Kiko Zambianchi e Ritchie, um dos ícones da época com sua “Menina Veneno”. Mas também foi em 1989 que perdemos Raul Seixas. Quem não morreu mas não dá para esquecer são “Gengis Khan”, “Trio Los Angeles” e “Yahoo”. Como também não da para esquecer da Gretchen, Sidney Magal e Rita Cadillac, atrações infalíveis do “Cassino do Chacrinha” e  “Clube do Bolinha”.

E CHEGOU O GOL

Em 1980 a Volkswagen lançou o então revolucionário Gol –segredo provavelmente fotografado com uma Kodak Instamatic- e tirou de linha a Brasília. Do Gol vieram Voyage (1981), Saveiro (1982) Parati (1983). Lembram que os primeiro Gol e Saveiro tinham motor “a ar”? Mas quem queria estar na moda tinha que ter um Passat Dacon, qualquer que fosse o modelo, ou um Passat Sulam ou pelo menos um Puma GTB Série II. Mas nada tinha mais status mesmo que um Passat Dacon, fosse ele targa (com “vidrão de Cessna” atrás), wagon ou sedã.

Em 1988 o Passat saiu de linha, mas em 1984 foi apresentado o Santana. O choque veio em 1986, quando o Fusca deixou de ser fabricado aqui no Brasil. Era a época em que todo mundo usava calça USTop, Fiorucci ou Gledson. E foi nos anos 1980 que Nelson Piquet dominou a Fórmula 1, ganhando os títulos de 1981, 83 e 87. Também foi em 1984 que Ayrton Senna estreou na categoria, vencendo o seu primeiro título em 1988 (e depois os de 90 e 91). Nesse tempo, as musas eram Xuxa (a namorada do Pelé), a ex-paquita Luciana Vendramini e, é claro, Lídia Brondi. Mas tinha quem se contentava com Magda Cotrofe e Luiza Brunet. E a Gretchen de novo…

A Ford, que sobrevivia de Corcel II e Landau, em 1983 tirou o Landau de linha e lançou o luxuoso Del Rey, e apresentou o Escort, com destaque para a versão esportiva XR3, que marcou época. Em julho de 1987 começou a operar a desastrada Autolatina, empresa que unia VW e Ford. Ao mesmo tempo o Brasil parava para assistir as novelas Roque Santeiro e Pantanal, esta na extinta TV Manchete.

Para ler e dar risada, além da revista MAD, duas publicações cariocas: a “Casseta Popular” e o “Planeta Diário”, cujos criadores foram parar na Globo com o programa “Casseta e Planeta”. E por falar em revista, a Playboy com Hortência nua durou apenas uma semana nas bancas. As meninas colecionavam figurinhas “Amar É”, “Moranguinho” e “Bem Me Quer”. Também se colecionavam os cards sobre bichos que vinham nos chocolates Surpresa e as figurinhas de Fórmula 1 e futebol do chiclete Ping Pong.

“We Are the World” foi o hit de 1985, num clip que reuniu de Bob Dylan a Michael Jackson, de Ray Charles a Bruce Springsteen. E na música internacional brilhavam nomes como “A-Ha”, “Abba”, “Cindy Lauper”, “The Cult”, “The Cure”, “Smiths”, “Police”, “Queen”, “U2”, “Stones” e “Van Halen”, entre muitos outros. No cinema, Star Wars, Superman, Blade Runner, Indiana Jones, ET, e o clássica trilogia “De Volta para o Futuro”, com seu DeLorean, fizeram muito sucesso.

JORNADA NAS ESTRELAS

A Fiat deixou de lado o 147 (que foi rebatizado na sequência  de Europa e Spazio) e partiu para um projeto então mais atual, o Uno, que foi lançado no Brasil em 1984 e durou até janeiro do ano passado. Na esteira vieram o Prêmio (1985), a Elba (1986) e a Fiorino (1988). Em 1986 a Alfa Romeo 2300 deixou de ser fabricada e, em 1989, tivemos o caso da fogueteira do Maracanã, Rosenery Mello, acusada de disparar um sinalizador que atingiu o goleiro Rojas, da seleção do Chile. E ela acabou enfeitando as páginas da Playboy…

Se no futebol nada deu certo, no vôlei surgiram novos ídolos, como Jacqueline, Vera Mossa e Isabel, e Renan, Xandó, Badalhoca, Bernard (e seu saque “Jornada nas Estrelas”), Bernardinho e Montanaro. O basquete também se deu bem, com a seleção derrotando os Estados Unidos em 1987, na final dos Jogos Pan Americanos. Em 1985 Mike Tyson se profissionalizou e logo surgiu o nosso “Tyson”, o folclórico Adilson “Maguila” Rodrigues, hoje com problemas muito sérios de saúde. Na asa delta a estrela era o carioca Pepê, que morreu em 1991 num acidente no Japão.

Entre as guloseimas que marcaram os anos 1980, temos as balas Soft, um terror quando engolida inteira; o Supra Sumo; Drops Kids; Chucola; Drops Dulcora (“a delícia que o paladar adora”); Caramelos Nestlé e Sugus. Entre os biscoitos, havia os Duchen, Mirabel, Recreio, Deditos e Monstrinhos Creck. Os chicletes mais populares eram o Ping Pong, Bazooka, Bubaloo, Adams, Ploc, Fresh-n-up, Azedinho Doce, Plets e os saquinhos de minichicletes Adams.

Chocolate também não faltava, incluindo os da Pan e Sonksen. Chokito, Surpresa, Guarda-Chuvinhas, Sensação, Suflair, Rocky (concorrente do Bis), as moedas douradas de chocolate e o Sem Parar. O Kri mudou de nome e virou Crunch, Lollo virou Milkybar, Cad Lac virou Kit Kat e muitos refrigerantes também surgiram e desapareceram: Fanta Limão, Kita Cola, Guaraná Sport, Grapete (“Quem bebe Grapete repete Grapete”), GingerAle, Guaraná Skol e Pop Laranja. Em 1989 a Skol lançou a primeira bebida em lata do Brasil. Tinha ainda a cerveja Malt 90, lançada em 1984 e que sumiu logo.

GENIUS E CALOI 10

Por sua vez a General Motors, que por muito tempo viveu às custas do Chevette (de 1973 a 1993) e Opala (de 1968 a 1992), começou a se modernizar nos anos 1980. Em maio de 1983 lançou o Monza, que durou ate 1996, e em 1989 foi a vez do Kadett, que ficou em linha ate 1998.

Nessa época alguns brinquedos fizeram história, como o Genius, Game & Watch, Telejogo Philco, Ferrorama, Autorama, Ursinhos Carinhosos, bonecas Susi, Meu Querido Pônei, coleção Patotinha, Playmobil, Comando em Ação, Falcon, Fofolete, Bate-Palminha, Pe na Tabua, Matchbox, Aquamovel, cubo Mágico, robô Artur, o Forte Apache da Gulliver e os vídeo games Atari, Intellivision da Sharp e Odyssey. Tinha a Estrela, a Atma e a Trol.

Bicicleta só podia ser Monark ou Caloi, Barra Forte ou Barra Circular, mas vieram umas Peugeot de 10 marchas importadas e logo depois apareceu a Caloi 10 e Monark 10, a Crescent. Tinha ainda o Pogobol, Mão Biônica, Clarineta Hering, o cachorrinho Xereta, Vai-e-Vem, Snoopy e War. Super Trunfo era para colecionar e brincar, fliperama para ir escondido. Criança rica brincava de Mobilette, Garelli ou Maxi-Puch.

E na escola brincava-se de “Stop”, “Sapino” e “Beijo, Abraço ou Aperto de Mão”. Para levar na escola tinha as canetas Bic 4 Cores, caneta de 10 cores, Bic Ponta porosa, Kilometrica, lápis com tabuada e, claro, muita coisa impressa em mimeógrafo, máquina copiadora cuja venda era controlada pela polícia (para evitar a proliferação de material subversivo)… E aquele caderno que na última capa tinha o Hino Nacional? Ou o estojo que tinha a tabuada? Você também podia usar um tênis All Star, Iate ou Montreal (aquele antimicrobiel). Ou um Dockside Samello, ou comprar um sapato da Birello com sola de pneu. As meninas usavam cabelos longos e encaracolados, e os rapazes imitavam o cabelo do Paulo Ricardo do RPM, que hoje dizem faz “chapinha”. Ombreiras era obrigatórias.

Para ver as horas, nada mais “in” do que os relógios Champion que trocavam pulseiras; os Casio G-Shock, ou com calculadora ou ainda com joguinho da pirâmide; e as imitações de Champion, os Cosmos e Grand Prix. Para usar no banho, Neutrox no cabelo, enquanto o perfume mais indicado era o Azzaro. Tinha também o shampoo de maçã verde.

NA MODA

Mania foi o iôiô da Coca Cola de 1982 e depois as miniaturas de garrafinhas. Lembram daquelas polainas de lã que as meninas usavam para fazer aulas de “jazz”? E de encapar os cadernos com Contact, gravar em fitas K7 Basf Cromo, usar calça Lee americana e tênis Adidas?

Abusando da tecnologia disponível na época, começaram a surgir os walkman, fones de ouvido com rádio incorporado, máquinas fotográficas Xereta e Love, televisão Telefunken e videocassete no sistema Betamax. Não existia CD, e os discos eram compactos simples e duplos ou LPs. Som era da Gradiente, Pioneer, Quasar, Polivox ou os imbatíveis Technics. Dinheiro nessa época era o “barão”, pois a nota de 1000 Cruzeiros trazia a imagem do barão do Rio Branco. Logo, na conversão, 1 Barão era igual a 1000 cruzeiros. O dinheiro, de qualquer forma, era curto, mas guardado numa carteira emborrachada e com fecho de velcro da OP.

Na área de personalização de carros, os anos 1980 foram criativos. Alem dos inúmeros carros fora de série produzidos aqui, já que a importação era proibida, o mercado de acessórios era muito mais sério e de bom gosto do que os tunings da vida de hoje, capaz de produzir aberrações que parecem um peixinho Nemo com rodas.

Basta lembrar dos volantes Motolita, Carrera ou Monstrinho; rodas gaúchas, cruz de malta ou stock; instrumentos Smiths, BRD ou VDO; bancos Procar; polainas sanfonadas para Passat e Brasília; espelhos Flag; arinhos nas rodas; escapamento Kadron e adesivos da Dacon. Ah, os adesivos da Dacon… E os faróis de milha Cibié? E as buzinas Fiam e Paquerinha? Som tinha que ser TKR “cara-preta”, Roadstar, Sony TC26 ou Pioneer KP500, com alto-falantes coaxiais Bravox e tweeters Seleniun, mais equalizador Tojo GR100. De preferência presos numa “gaveta”, espécie de som-ostentação da época. Ah, e um bom rádio PX Cobra 148 GLT. Tinha ainda teto solar Karmann-Ghia e Slide-a-way; faróis amarelos; suporte de placa de Mercedes; espelhos de BMW e pneus CN36 (depois vieram os G800 e GPS).

Enfim, a década de 1980 foi o período em que o Brasil se desvencilhou da ditadura, foi quando a indústria de automóveis amadureceu e foi o período mais criativo no que diz respeito à personalização de carros. Era a época em que o brasileiro era realmente apaixonado por automóveis, época de trânsito menos caótico e muito menos violência. Em São Paulo, era sintonizar no FM a radio Excelsior (“A Máquina do Som”), Difusora ou Pan 2, dar uma olhada no show-room da Dacon, esticar até a Sebring (pista de autorama) e depois encontrar a turma no postinho do final da rua Augusta, onde se bebericava um “coquinho”.

Os anos 1980 deixaram saudade, tanta saudade que está acontecendo uma corrida quase louca em busca de carros daquela época. O que era sonho de adolescentes há 30 anos pode ser realidade hoje. E viva o XR3!


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