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Snow Cruiser: a incrível história do veículo perdido na Antartida

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O “Snow Cruiser” era um gigantesco veículo de exploração, que foi enviado ao Pólo Sul em 1939, ficou preso no gelo após desembarcar na Antártida e acabou abandonado alguns anos depois. Redescoberto sob vários metros de neve e gelo em 1958, o veículo novamente se perdeu, e está desaparecido há 62 anos.

Porém, segundo os pesquisadores  Ted Scambos e Clarence Novak, que há anos tentam localizar o veículo, um novo estudo descreve uma área de pesquisa aproximada, com base em mapas históricos e dados oceanográficos, e detalha as prováveis localizações de outros artefatos da era do Snow Cruiser.

O Snow Cruiser, construído em apenas 11 semanas no verão de 1939 a um custo de 128 mil euros, seria a base móvel da Antártida. Foi projetado por Thomas Poulter, cientista, professor e explorador da Antartida, que quase morreu depois de ficar preso num acampamento perto do Pólo Sul, numa expedição anterior.

Poulter imaginou que um centro de pesquisa móvel seria muito mais seguro e eficiente. Assim, decidiu construir um monstrengo sobre rodas, com cerca de 17 metros de comprimento e 4,8 metros de altura.

“The Snow Cruiser – Antarctica’s Abandoned Behemoth” é o nome de um curto documentário que retrata a história de um dos veículos mais estranhos alguma vez construído. O Snow Cruiser tem também outros nomes associados a ele, como “The Penguin”, “Penguin 1” ou “Turtle”.


 
O “Antarctic Snow Cruiser Project” foi o resultado de um ambicioso projeto de engenharia, desenhado e construído em Chicago, em 1939, sob a supervisão Poutler, na “The Research Foundation of the Armour Institute of Technology”. A construção demorou 11 semanas e, no dia 24 de outubro de 1939, o Snow Cruiser foi ligado pela primeira vez.


 
Após a sua construção, esta monstruosidade foi conduzida pelas vias públicas até Boston, a pouco mais de 1.600 km de distância. Durante a viagem a direção quebrou, o que fez com que o veículo caísse de uma pequena ponte, ficando encalhado ali durante três dias. De Boston, foi embarcado para a Antártida, passando pelo Canal do Panamá e pela Nova Zelândia, à bordo do navio North Star. A sua concepção serviria para facilitar o transporte nos terrenos quase intransponíveis do “Continente Gelado”, durante a expedição americana realizada ali de 1939 a 1941.


 
O peso deste gigante era de 34.000 kg e estava equipado com dois motores diesel Cummins H-6 de seis cilindros em linha, 11 litros e 150 cv cada, que serviam de geradores a quatro motores elétricos de 56 kW da General Electric, um por roda, com potência de 75 cv cada.

A suspensão era independente nas quatro rodas e podia ajustar a altura do veículo. O comprimento do Snow Cruiser era de 17 metros, a distância entre-eixos de seis metros e a sua altura podia ser ajustada entre os quatro e cinco metros. A velocidade máxima é de 48 km/h e tem os reservatórios tinham capacidade para 9.500 litros de combustível. No interior existiam vários compartimentos, que a tripulação poderia usar enquanto estivessem em movimento.

The Antarctic Snow Cruiser—Updated - The Atlantic


 
O Snow Cruiser tinha várias funcionalidades inovadoras, como por exemplo as rodas que recolhiam para um compartimento aquecido pelos gases de escapamento, fazendo com que durassem mais tempo e não fossem afetados pelas baixas temperaturas. A parte superior foi estudada para acomodar uma pequena aeronave, neste caso um avião Beechcraft. A cabine era aquecida por meio do sistema anticongelante do motor. A energia elétrica não utilizada era armazenada em baterias para ser utilizadas pelas luzes e equipamentos. O Snow Cruiser pode ter sido o primeiro veículo a utilizar um sistema de propulsão híbrida, diesel e elétrica.

Just A Car Guy: There were some mighty big Goodyears on Admiral Byrd's  Antarctic Snow Cruiser in 1939


 
Poutler foi o comandante da segunda expedição de Richard Byrd, em 1934, e sabia o que um veículo necessitava para atravessar as condições difíceis do meio ambiente. No entanto, o Snow Cruiser falhava sempre que aparecia um obstáculo mais complicado, nem mesmo os grandes pneus ajudavam, pois não tinham tração suficiente, nem com a adição dos dois pneus extras isso foi melhorado e, dessa forma, acabou sendo abandonado em algum lugar da Antártida, decisão esta ajudada pelo fato do financiamento da expedição ter sido cancelado com o início da Segunda Guerra Mundial.

The lost 1939 Antarctic Snow Cruiser was outrageous, ambitious, and a  colossal failure | Hagerty Media

A verdade é que, depois de uma jornada árdua –a maior parte feita de ré, para melhor tração-, o Snow Cruiser chegou à base antártida chamada Little America III, perto da Baía das Baleias no Mar de Ross. A tripulação converteu-o numa espécie de bunker fixo até 1941, quando sua localização foi marcada por algumas estacas de bambu e abandonado com o início da II Guerra, juntamento com o resto da base com o resto da “Little America II”.
 
Em 1946, depois da guerra, durante a “Operation Highjump” o Snow Cruiser foi descoberto, necessitando apenas de uma pequena revisão e ar nos pneus para voltar a se mover. Foi redescoberto em 1958, mas voltou a desaparecer debaixo da neve, já que apenas tinha sido colocado um pequeno sinal para indicar o local onde estava. A  máquina, quando foi localizada em 1946, estava sendo lentamente sepultada na neve e no gelo que se acumulavam em torno dela.

Em 1958, uma equipe localizou a ponta dos seus postes de sinalização e cavou até chegar ao veículo com uma escavadora. Depois disso, o Snow Cruiser nunca mais foi visto.

Hoje, encontrar o Snow Cruiser não é só questão de cavar. A plataforma de gelo na qual Little America III estava localizada se rompeu e partiu em vários icebergs enormes. Um deles, que carregava destroços visíveis do acampamento, foi avistado pelos marinheiros do USS Edisto em 1963, no Mar de Ross.

1939 Ad Cummins Diesel Engine Snow Cruiser Antarctic Expedition Resear –  Period Paper

Este grande pedaço de gelo flutuou a cerca de 18 km da costa, mas Scambos e Novak acham improvável que o Snow Cruiser estivesse nele –pelo menos quando foi localizado-, dizendo que “a posição relativa dos hangares, postes e o Snow Cruiser (baseado num mapa da área feito em 1941) torna quase certo que o Snow Cruiser se separou do iceberg de Edisto em algum momento anterior”.

No One Ever Saw the Snow Cruiser Again… | OrangeBean Indiana

É muito provável que o Snow Cruiser estivesse num iceberg menor ao redor da Baía das Baleias ou já se tivesse separado do iceberg Edisto antes. De lá, o iceberg que carregava o Snow Cruiser provavelmente flutuou para o norte ou oeste ao longo da costa da plataforma, batendo na plataforma enquanto avançava e lentamente afundando.

Isto significa que o Snow Cruiser, em algum momento de 1962, foi depositado de um iceberg no fundo do oceano em algum lugar ao longo da plataforma de gelo Ross, algo entre 400 e 800 metros de profundidade. Essa é a pista seguida agora pelos pesquisadores.

No One Ever Saw the Snow Cruiser Again… | OrangeBean Indiana

Existem algumas teorias que indicam que a União Soviética desenterrou o veículo durante a Guerra Fria, o que parece pouco provável devido às suas dimensões e peso.

A Antártida um dos lugares mais remotos e interessantes do planeta. No continente gelado, onde fica o Pólo Sul geográfico, praticamente não há vegetação, a temperatura durante o verão não passa dos 15°C, e a população varia entre 1.000 e 5.000 habitantes, conforme a rotatividade das bases de pesquisa espalhadas por sua área; menos gente no inverno, mais gente no verão. Um ambiente impressionante e hostil, já que a interferência humana é mantida no menor nível possível.
 


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