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BLOG DOS CARUSO: O CIVIC MUDOU. E DAÍ?

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Antigamente diziam que o que era bom para os americanos, era ótimo para os brasileiros. Nessa lógica, o que é ruim para os americanos, só pode ser péssimo para os brasileiros. Explicamos: a Honda apresentou o Civic 2012 como carro conceito no Salão de Detroit no ano passado. O impacto no público foi pequeno, pois o modelo era apenas uma atualização pouco ousada do modelo anterior. Encerrado o Salão, o “novo” Honda Civic (todos os carros são “novos” hoje em dia, você já reparou?) tornou-se realidade e agora já está nas concessionárias da marca de todo o Brasil. Antes de desembarcar por aqui, mesmo antes da primeira apresentação para a imprensa -ainda no final do ano passado- o modelo começou a enfrentar seu calvário. Nos Estados Unidos, seu segundo mercado (o primeiro é o Japão), chamou menos atenção ainda que o concept, sendo tachado de carro sem personalidade, apenas um redesenho do modelo da oitava geração.

O Civic que começa a desfilar no Brasil já fazia o mesmo nas ruas americanas desde abril do ano passado. Aqui, enquanto a nona geração do sedã vai tentar recuperar o posto de líder de seu segmento, perdido para o rival Toyota Corolla, nos Estados Unidos esse modelo é considerado um grande equívoco da Honda, para não dizer outra coisa menos elegante. Bastante criticado pelas mudanças que empobreceram o seu interior, o carro foi ultrapassado em vendas por Chevrolet Cruze e Ford Fusion, e está ameaçado até pelo Hyundai Elantra -carros que vai enfrentar no Brasil. De abril a outubro do ano passado, suas vendas caíram 15%, enquanto o mercado americano cresceu 10% no período.

Tamanho fracasso já tem um culpado. Em entrevista coletiva, Takanobu Ito, presidente da Honda, assumiu a responsabilidade, alegando ter avaliado as informações disponíveis para tomar a melhor decisão em relação ao novo carro. “E essas decisões são inteiramente de minha responsabilidade”, afirmou. Ele explica que a Honda imaginou que, após a crise financeira que assolou os Estados Unidos em 2009, os consumidores gostariam de ter acesso a carros mais baratos, mesmo que para isso acabamento e equipamentos fossem sacrificados. Os concorrentes do Civic, que hoje deitam e rolam no mercado, mostraram o quanto a Honda estava errada, e vendem bem seus carros mais equipados e luxuosos.

John Mendel, vice-presidente da Honda norte-americana, falou que uma das soluções para sair dessa sinuca seria adiantar a reestilização –que deve ir muito além da aparência externa- de 2014 para o início de 2013. Apesar de não haver nada definido sobre isso, seria uma forma de atenuar o prejuízo e a perda de mercado. Lá não se engana o comprador por mais de uma semana.

Outro erro da Honda foi ter melhorado o acabamento das versões europeias, quando o Velho Continente está atolado numa crise gigantesca, sem dinheiro, “numa tanga de dar dó”, como diria mina avó. Na Europa o carro é diferente do americano, tem nível de acabamento mais cuidado, mas não encontra compradores como esperava. O conselheiro da Honda na área devia ser demitido, pois sugeriu um carro mais pobre para o mercado que se recuperou, e indicou um modelo mais luxuoso para o que afundou.

Inverter os carros nos mercados é impossível, pois apesar de similares, estão enquadrados em legislações diferentes, e isso exigiria mudança radical de todo o ferramental utilizado pela Honda para fabricar os carros vendidos nos Estados Unidos e na Europa. Custaria tempo e dinheiro que a Honda parece não ter.

Problemas nos Estados Unidos, problemas na Europa, problemas no Japão (que se recupera das recentes tragédias) e, como se não bastasse, o “novo” New Civic 2012 é vendido no Brasil a preços absurdos. Não é preciso nem comparar os preços daqui com os praticados nos Estados Unidos, pois lá o carro é um modelo de entrada, e assim comercializado. Aqui, a versão intermediária LXL com câmbio manual, custa R$ 72.700, e com  câmbio automático, mais R$ 3.200.

Você está imaginando então um carro japonês com conteúdo de Mercedes-Benz? Nada disso. O preço é fantástico, mas esse Civic LXL tem um “pacote” comum, com freios a disco, ABS e EBD; airbags frontais, ar condicionado digital, bancos de couro, tela de LCD no painel, câmera de ré sem alarme sonoro, volante regulável, piloto automático e sensor crepuscular, entre outros mimos. A versão EXS, com mais equipamentos e câmbio automático, salta para estratosféricos R$ 85.900.

O Civic mede 4,52 metros e tem entre-eixos de 2,67 m, medidas que garantem bom espaço interno. O motor recebeu algunas mudanças mas continua o mesmo 1.8 flex i-VTEC, com 139/140 cv de potência máxima a 6.500 rpm e 17,5/17,7 mkgf de torque máximo a 4.500 rpm. Bom, mas nada de outro planeta. As suspensões são McPherson na frente e multilink atrás, com rodas aro 16 e pneus 205/55. A calibragem é um pouco mais dura do que se espera para um carro desse preço, que deve privilegiar o conforto.

A Honda corrigiu o defeito mais grave do New Civic, a falta de espaço para bagagem no portamalas, que passou de 349 para 449 litros de capacidade. Em nossa opinião e nos comentários do mercado, o New Civic tinha desenho tão avançado que acabava enjoando. Mais ou menos como os carros amarelos: no primeiro mês, tudo bem. Depois disso você coça a cabeça todas as manhãs e pensa: “será que fiz bobagem”? Com o 2012, deve acontecer o mesmo em muitos casos.

A nona geração do modelo ficou sem identidade nos Estados Unidos e na Europa, e sem preço no Brasil. Sejamos justos, a Toyota, concorrente direta da Honda com o Corolla, também cobra valores exagerados pelos seus carros. A vantagem é que oferece quatro versões e a Honda, três. Os Corolla intermediários (GLi e XEi), custam R$ 67 mil (1.8 manual) e R$ 77 mil (2.0 automático). Mais problemas no horizonte da Honda.

Uma outra comparação parece absurda, mas não é. Observando um modelo que está vendendo bem, o sedã Nissan Versa, o comprador enxerga que ele faz quase tudo o que o Civic faz, é ligeiramente menor e mais econômico. Com os R$ 75.900 do Civic LXL automático dá para comprar um Versa SL e economizar cerca de R$ 35.900; o Nissan custa R$ 40 mil. Com a diferença você pode comprar um bom carro antigo para se divertir, um carro para os dias de rodízio ou um outro carro novinho para sua mulher. Quase um Fiat 500 Cult de troco…

A verdade é que a Honda aposta muitas de suas fichas nesse Civic, mas tornou-se uma marca estranha, retraída, praticando erros que não faziam parte de seu passado. Com esse preço, com a falta de personalidade e com a concorrência de qualidade instalada no Brasil, é bem provável que o Civic passe longe da liderança do segmento, amargando um quarto ou quinto lugar nas vendas. Resta saber se o mercado vai perdoar tantos erros. O Civic fracassou nos Estados Unidos, tropeçou na Europa, vende pouco no Japão e custa caro no Brasil. Até onde o consumidor brasileiro quer ser enganado?

-Leia mais na revista AUTO&TÉCNICA


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