Slide

VW Golf nacional: muito mais perdas do que ganhos

Compartilhe!

Chegou o novo Golf nacional, mas a recomendação de AUTO&TÉCNICA é simples: compre o importado, se ainda der tempo. Na nacionalização do modelo, quem ganhou foi só a Volkswagen. Explicamos: o carro sofreu um downgrade técnico, piorou em relação ao Golf que era até então importado e praticamente manteve o preço (aumentando o lucro para a marca).

golf-comfortline2-630x420

Uma única vantagem de nacionalizar um carro -vantagem direta para o País e indireta para o consumidor- é o programa Inovar-Auto, que estimula as nacionalizações, e gera alguns novos empregos. A instalação de novas fábricas das montadoras e fornecedores pelo menos movimenta um pouco a economia e traz benefícios para o desenvolvimento do País. Mas é muito pouco reinvestimento diante do lucro das montadoras. Bilhões de dólares continuam sendo remetidos para as matrizes, que ganham ainda mais com as “nacionalizações”, ampliando seus lucros.

MOTOR INFERIOR

O novo motor 1.6 MSI usado no Golf nacional é muito inferior ao anterior 1.4 TSI importado, custando praticamente o mesmo e indo na contramão do que se espera: a nacionalização de carros antes vendidos por aqui como importados deveria trazer vantagens financeiras para o consumidor, mas não. Mesmo se livrando dos 35% do Imposto de Importação, frete e outras despesas, além de usar a mão de obra local (mais barata que a estrangeira), os custos de produção são reduzidos e por isso os preços deveriam cair muito, mas não foi isso que aconteceu.

A exemplo de várias nacionalizações recentes, o resultado é um só: aumenta o lucro das montadoras e não cai o preço para o consumidor. Os BMW Série 1 e Série 3 são vendidos pelos mesmo preços de quando eram importados; o Audi A3 Sedan nacional também chegou com preços praticamente inalterados, mas perdeu o câmbio S-tronic de dupla embreagem e agora usa uma caixa de câmbio automática normal e suspensão traseira menos sofisticada, com eixo de torção no lugar da multilink que equipava o modelo importado.

As montadoras sempre tem uma desculpa na ponta da língua, como o dólar caro (que os beneficia nas exportações), o baixo índice de nacionalização e a necessidade do consumidor pagar para elas o investimento nas fábricas.

Um caso quase absurdo acontece agora, com a chegada da versão nacional do Volkswagen Golf VII. Quem esperava preços menores, se decepcionou, e quem esperava carros no mesmo nível técnico, se decepcionou mais ainda. O mercado aguardava uma versão de entrada mais simples, que custasse menos que os R$ 77 mil iniciais do importado (que começou sendo trazido da Alemanha, e depois do México, deixando pelo caminho, por exemplo, o freio de estacionamento elétrico).

Quando vinha da Alemanha, o Golf custava caro para a marca, mas importado do México, sem o Imposto de Importação, mudou a situação para a Volkswagen. Agora, o Golf brasileiro de entrada, o Comfortline, ficou mais despojado do que devia. O Comfortline -que alemão ou mexicano custava entre R$ 75 mil e R$ 85 mil- mudou para pior  e custa quase o mesmo que os importado. Não é um carro ruim, mas bem pior que os importados.

PREÇOS

O Golf Comfortline 1.4 TSI importado ainda aparece no site da Volkswagen com preços de R$ 76.790 o manual e R$ 83.290 o automatizado. Já o novo Golf Comfortline, nacional, agora com motor 1.6 MSI, sai por R$ 74.590 o manual e R$ 79.990 o automático. Ou seja, perdeu muito e ficou apenas R$ 2.200 e R$ 3.300 mais barato. Mas não ficou mais barato? Não. As únicas vantagens do Golf Comfortline nacional estão nas rodas maiores (aro 17) e no fato do motor ser flex, que com o preço em que se estabilizou o etanol, não é ganho nenhum para o consumidor. Com esse motor o carro ficou bem mais lento, consome mais combustível e perdeu a refinação mecânica que tinha.

Na prática, o carro perdeu muito. Trocou o motor turbo por um aspirado com 20 cv de potência e absurdos 8,7 mkgf de torque a menos: agora são 120 cv e 16,8 mkgf a 4.000 rpm, contra 140 cv e 25,5 mkgf a 1.500 rpm. E mais: abandonou a excelente transmissão DSG, automatizada de dupla embreagem e sete marchas, pela superada automática de seis marchas Tiptronic, a mesma usada no velho Golf de 2007.

Na versão manual, também perdeu, no caso uma marcha: passou de seis velocidades para cinco. E não é só isso: o sistema Start/Stop foi abduzido da versão de entrada; a suspensão traseira independente multilink foi trocada por um eixo de torção, mais barato e que prejudica a estabilidade antes quase impecável do carro. Um erro estratégico, pois o Ford Focus, seu concorrente direto, tem a suspensão traseira multilink.

MAIS LENTO

Para quem gosta de acelerar, outra decepção. O Golf 1.4 TSI de 140 cv acelerava de zero a 100 km/h em 8,4 segundos e atingia 212 km/h, e agora o 1.6 MSI brasileirinho acelera de zero a 100 km/h em 11,6 segundos (etanol) ou 12,3s (gasolina) e chega aos 184/179 km/h. São espantosos mais três segundos extras no zero a 100 km/h, o que significa acelerações e retomadas prejudicadas. O consumo também piorou: o 1.4 TSI de 140 cv faz 11,5 km/l na cidade e 13,4 km/l na estada, enquanto o 1.6 MSI marca ruins 8,8 km/l e 12,5 km/l, com gasolina, segundo o Inmetro.

O conselho é simples: se você sonhava em ter na garagem um Golf nacional, comece a tentar encontrar nas concessionárias alguma unidade esquecida do importado Comfortline 1.4 TSI mexicano.

A versão Highline nacional ficou mais cara: R$ 91.290 com câmbio manual e R$ 96.690 com o automático; antes era R$ 85.790 e R$ 92.290. A Volkswagen pode até tentar justificar pelas rodas maiores e pelo “pacote” Elegance de série (antes o Highline custava R$ 91.786 (manual) e R$ 98.286 (automático). Houve ganho de 10 cv pelo uso do etanol, mas perdeu a transmissão automática e suspensão traseira; o zero a 100 km/h piorou de 8,4s para 8,6s, por causa do câmbio. Nessa versão o câmbio manual manteve as seis marchas.

MAIS CARO

O Golf GTI se manteve próximo do importado, mas ganhou o sistema de áudio Fender e ficou R$ 2.700 mais caro. Mas podia ter ficado mais barato, claro, por ter se livrado do Imposto de Importação, como dissemos no início.

Enfim, a estratégia da Volkswagen parece clara: manteve ou deu uma leve melhorada no que se vê, como rodas e acabamento, e piorou o que não se vê, como motor, câmbio ou suspensão.  Aposta num consumidor desinformado e desinteressado; quem realmente entende um pouco de automóvel, vai torcer o nariz. Isso sem contar que o Golf europeu vai ser atualizado em breve (leia aqui no site), mudanças que não estão presentes no nacionalizado.


Compartilhe!
1728970379