Classic Cars

Abarth e a “Princesa dos Ventos”

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Com fama atual pelos trabalhos de preparação em modelos Fiat e sempre lembrada pelo passado de veículos esportivos e de competição, a Abarth desfrutou de muito sucesso durante as décadas de 1960 a 1980 como preparador e construtor de veículos de reconhecida competência.

A história do modelo que mostramos aqui pode ter como origem a relação da Abarth com a palavra “recorde (que causa tudo menos estranheza), a vontade de seu fundador Carlo Abarth em expandir o alcance da marca e os estudos feitos pela Fiat-Abarth e a Bertone na segunda metade da década de 1950, após os quais o fabricante italiano se dirigiu à Pininfarina para o desenvolvimento de novos protótipos, por meio do uso de um túnel de vento instalado no Politécnico de Turim.

Inicialmente seria desenvolvido o 750 cm3 Monoposto (recordista na Categoria H com velocidade média em 72 horas de 165,34 km/h) usando um motor de Fiat 600, mas a verdadeira evolução e dominância viria mesmo com os modelos sucessores a este, o futurista e aerodinâmico sedã Pininfarina X (que já mostramos aqui) e o estilizado 1000 Bialbero Record, ambos pensados para a aplicação de motores de baixa cilindrada.

O Abarth 1000 Bialbero, apelidado de “La Principessa” (“A Princesa”) e comumente designado de “Monoposto Record”, é um generoso monoposto de carroceria em alumínio, com base num Fiat 600 e com um só propósito: o de ser o veículo de quatro rodas da sua categoria mais rápido em terra.

Com reduzida altura de 1,2 metros, largura de 1,55 m e comprimento de 4,56 m, o coeficiente de penetração aerodinâmica era de apenas 0,2, por si só algo bastante impressionante, ainda mais se considerarmos a ausência de estudos de computador e simulações dinâmicos de fluídica para auxiliar no desenvolvimento da carroceria.

A subtileza das linhas acaba por dominar plenamente o visual, com a impossibilidade de se encontrar qualquer aresta que interfira na aerodinâmica. A presença de apêndices aerodinâmicos para esconder as rodas auxilia ainda mais na percepção de que se está diante de um recordista de velocidade.

O acesso ao habitáculo é relativamente fácil, graças à presença de uma cobertura removível. Ladeado por proteções soldadas à carroceria, o piloto possui apenas 40% do diâmetro original de um volante normal, como forma de facilitar o movimento das pernas, plenamente necessário devido à reduzida altura do carro. Um detalhe é o padrão das marchas do câmbio, onde ao contrário do habitual, a primeira fica em posição superior à direita.

Desenvolvido em conjunto entre a Abarth e a Carrozzeria Pininfarina, a sua elaboração parecia estar destinada ao sucesso, como demonstraria o estabelecimento de nove recordes de velocidade durante o projeto. O indício da capacidade do modelo na Categoria G surgiu logo nas primeiras tentativas, com o recorde de velocidade média em 10.000 km (191,03 km/h) e o de maior velocidade média em 72 horas (186,68 km/h) sendo quebrados. Talvez este último acabe mereça destaque, dadas as suas circunstâncias.

“La Principessa” marcaria presença nas provas de velocidade de Monza entre 28 de setembro e 1 de outubro de 1960, com o objetivo de quebrar o recorde de velocidade média em 72 horas. A equipe Abarth era liderada por Renzo Avidano, sendo reunidos os melhores pilotos de fábrica à altura, Giancarlo Baghetti, Mario Poltronieri, Alfonso Thiele e Umberto Maglioli.

When 'La Principessa' cheated the wind and the crown | Classic ...

Durante o evento, uma chuva de grande intensidade acabou caindo sob o circuito, sendo colocado ao volante o piloto mais experiente, Maglioli, para completar a duração da prova. Devido ao acumulo de água na entrada para a curva norte do circuito, o Abarth acabaria aquaplanando já próximo da marca das 72 horas, o que resultaria numa batida contra o guard rail.

This Record-Setting Abarth Could Be Your Roadgoing UFO • Petrolicious

Apesar dos danos, Magliolo escapou ileso ao acidente, sendo ainda capaz de empurrar o monoposto até a linha de chegada. Estabelecia-se assim o recorde de velocidade média em 72 horas com a marca deve 186,87 km/h de média, com distância percorrida de 13.441,5 km.

When 'La Principessa' cheated the wind and the crown | Classic ...

Seguiram-se os recordes de velocidade média em 12 horas (203,66 km/h), em 2000 milhas (3.200 km, com 198,8 km/h), em 5000 km (199,24 km/h), em 5000 milhas (8.000 km, com 192,88 km/h) e o de maior velocidade média em 48 horas (190,26 km/h), também estabelecidos em Monza.

1960 Abarth Speed record car headed to auction | Stuff.co.nz

Estes valores e respectivos recordes tomam uma dimensão muito grande se considerarmos que estávamos no início da década de 1960 e que o “Monoposto” estava equipado com o novo motor Bialbero Type 229, de quatro cilindros, um litro e 105 cv de potência a 8000 rpm, com caixa de câmbio de quatro velocidades e velocidade máxima declarada de 220 km/h.

When 'La Principessa' cheated the wind and the crown | Classic ...

Após o estabelecimento dos recordes e a homologação dos mesmos, o 1000 Bialbero e o Pininfarina X seriam apresentados no 42º Salão de Turim, em 1960, com grande pompa.

La “Principessa” ritrovata - Storia - Motorsport

A Pininfarina acabou vendendo “La Principessa” a um colecionador italiano em 1970, e o carro permaneceu durante décadas longe dos olhos do público, apenas ressurgindo em 2015 quando o proprietário permitiu ao fotógrafo Piotr Degler a realização de uma sessão fotográfica.

Fiat Abarth Streamliner

É inacreditável, mas o 1000 Bialbero nunca sofreu qualquer trabalho de restauração profunda, permanecendo preservado num estado impecável, em nível de mecânica e de carroceria. Em 2016 acabou aparecendo num leilão em Pebble Beach (veja aqui), mas não chegou a ser vendido. O motivo? Segundo alguns, o dono mudou de ideia, segundo outros, não atingiu o valor de reserva.

La 'mia guerra' per diventare pilota - Storia - Motorsport

Caso a verdade seja a primeira opção, a podemos acusar o proprietário de qualquer coisa, menos de culpa. Afinal, é uma obra-prima, rara e importante na história do automóvel.

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