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Ford cria camuflagem especial para esconder seus segredos

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O ano era 1989. Quando era redator-chefe da revista OFICINA MECÂNICA, atendi ao telefone e a conversa era uma repetição de tanta outras. Do outro lado da linha alguém esbravejava, dizendo ter sido injustiçado pela Autolatina e, como vingança, tinha umas fotos de segredo para negociar. O preço? Apenas manter seu nome no anonimato, qualquer que fosse a situação. Compromisso assumido, fomos buscar o material. O Josias Silveira, diretor de redação, e eu comemoramos. Era o Projeto Pine, um carro para a VW, que acabou não se concretizando por questões de custo. Por outro lado, as vendas da revista com o “segredo” na capa foram altas e a Autolatina tentou de todas as formas saber a origem das fotos. Notícia importante, numa época em que a maioria das novidades se limitava a “novas cores e novos revestimentos internos”. Nossa palavra está mantida ate hoje, mesmo passados 27 anos.

Ford-CamuflagemProtótipos

Era a época em que segredos ajudavam a vender revistas e compromissos assumidos eram questão de honra. Para quem não sabe, muitos dos segredos mostrados hoje são forjados ou facilitados, ou seja, há um acordo entre a fabricante e alguma publicação, para que as matérias de “segredo” tenham a função de teasers antes do lançamento, mas isso é assunto para outra ocasião.

Esse exemplo do Pine é só um entre milhares e milhares. Uma das grandes dificuldades das fabricantes de automóveis é manter seus projetos futuros em segredo. Espiões industriais, jornalistas, funcionários injustiçados ou que assim se sentem… todos estão sempre tentando burlar os “segredos”. Enquanto os carros estão dentro das empresas, há maior controle sobre isso, mas chega um momento que eles vão para as ruas, e aí fica difícil manter o anonimato, ainda mais com a profusão de smartphones e câmeras que existem hoje.

A Ford desenvolveu um novo padrão de camuflagem para tentar poder testar protótipos nas ruas sem revelar seus segredos antes da hora. Chamado “3D Brick”, o novo disfarce cria uma ilusão de ótica e impede que espiões da indústria, ou simplesmente pessoas comuns usando a câmera do celular, mantenham o foco nas linhas do carro.

Inspirada na natureza e em ilusões de ótica populares na internet, a nova camuflagem cria um padrão caótico com milhares de pequenos cilindros pretos, cinza e brancos combinados de forma aparentemente aleatória. Isso dificulta a definição das linhas externas do carro, seja olhando diretamente ou por meio das incontáveis fotos e selfies publicadas na internet.

“Quase todo mundo tem um smartphone hoje e pode compartilhar fotos instantaneamente. Assim, qualquer pessoa, inclusive nossos concorrentes, pode ver nossos veículos em teste”, disse Lars Muehlbauer, gerente de Camuflagem da Ford Europa. “O trabalho dos designers é criar carros bonitos com detalhes interessantes. O nosso é manter tudo isso escondido”.

O desenvolvimento de um veículo é um processo rigoroso, que inclui testes de rodagem em vias públicas. Uma nova camuflagem leva cerca de dois meses para ser criada. Ela é impressa em vinil adesivo superleve, mais fino que um fio de cabelo, e aplicada especialmente em cada carro. Para garantir sua eficiência, o disfarce é testado primeiro em campos de provas fechados da Ford.

O objetivo do novo padrão é confundir a visão com um desenho confuso. “Pesquisei ilusões de ótica na internet e criei uma forma que pode ser copiada e sobreposta milhares de vezes. Isso cria tanto uma ilusão de ótica como um efeito 3D”, dssez Marco Porceddu, engenheiro de protótipos de Desenvolvimento de Produto da Ford Europa, seu criador.

A camuflagem não impede que o carro seja visto e chama a atenção em praticamente todos os lugares. Mas consegue desestruturar as formas, a superfície e a cor do veículo, retardando a capacidade do cérebro de reconhecer suas características chaves pelo olhar.

“Essa ilusão de ótica brinca com a habilidade de medir a profundidade e as sombras, dificultando a visão das formas e características do carro, um truque usado na natureza para escapar de algum perigo ou esconder algo”, explicou Martin Stevens, professor da Universidade de Exeter, na Inglaterra, pesquisador da coloração e camuflagem dos animais.

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O Projeto Pine da Autolatina.

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